quarta-feira, julho 08, 2009

MORREU, BRANCO, O CANTOR MICHAEL JACKSON

Esta era a imagem de Michael Jackson quando do lançamento do vídeoclip Thriller, em 1984, obra considerada das melhores de todos os tempos. Não há sinais das borbulhas afirmadas na adolescência e o trabalho de imagem adequava-se à pujança dos meios vocais e do gesto, dança invulgar, indiciada por muitos dos ritos urbanos, sobretudo onde florescem diversas misturas rácicas e mitomanias assmbrosas. Fala-se de uma infância problemática, difícil, aliás bem cedo explorada pela própria família na dança e num tom vocal específico, preso também à vontade do próprio Jackson, menino de vocações exploráveis. Um articulista, ao falar desta época, intitula a sua prosa com o título «uma estrela à custa de cinto». Joe, o pai, não admitia falhas aos filhos e recorria à violência para lhe incutir um rigor fanático. O tempo levou esta figura, tão poderosa em Thriller, a uma estranha metamorfose, duvidosamente fundada em certa doença da pele, que empurrou o cantor e dançarino para um caminho alucinatório, por vezes fascinante mesmo sob o peso das suas marcas, das sucessivas operações ao corpo, à derme, às feições do rosto, um rosto enfim ocultável e patético, ilustração inquietante dos ídolos em decadência, dos vícios que entretanto os cerca de solidão e crises depressivas de grave recorte. Jackson não era um monstro e morreu de forma abrupta, sem recurso, tratado das mais diversas sequelas derivadas da sua vida e das lesões que provocava a si mesmo. Teria estranhos hábitos, na sua relação com crianças e bichos exóticos, assaz perigosos, que chegou a ter em casa, com ênfase. Que desejaria ele daquela sala onde, em determinada altura, coleccionou manequins que declarava serem os seus amigos? Metáfora contra a solidão? Resistência à exploração da indústria dos espectáculos? Mas ele próprio os queria assim, talvez sem os saber gerir com vontade bem activada, cultura e bom senso. Seja como for, sem falar em genealidade, o seu talento era insofismável e a sua obra fez história. Nada que justifique, para além do respeito que lhe é devido nesta hora, a hipertrofia dos processos megalómanos em que envolveram as cerimónias da sua despedida e da quase sacralização do ídolo. Assim nos enganamos cada vez mais, sendo certo que os actores dos grandes espectáculos passam ao futuro pelo estreito caminho do envelhecimento irreversível.
este foi o rosto que Michael Jackson impôs a si mesmo,
não se sabe em nome de quê

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