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Apesar dos elogios que o Expresso dedidcou à nova decisão da Ministra Isabel Alçada, a maioria dos comentadores não percebe porque razão o todo poderoso Ministério da Educação envereda agora com a medida que acaba com os «chumbos» (expressão popular) no decurso dos estudos básicos do secundário. Esta ideia vem de longe, de um ministro engenheiro, procurava destramatizar a aprendizagem e torná-la mesmo um pouco lúdica. Desde a «invasão dos pedagogos» e das famosas «Ciências da Educação» que toda a superfície da área dos ensinos e das aprendizagens, abalada por ventos inesperados e «contranatura», ficou assim arrepiada, ora febril, ora gelada por várias tormentas. A ideia de chumbo e de um passarinho caindo ferido na asa, é brincadeira. Se pronunciarem com a tonalidade de qualquer carioca percebem logo. Quando não fui capaz de convencer o professor Delfim Santos, historiador e filósofo, de que sabia o que era o humanismo nas artes, ele interrompeu o meu exame. Daí a uma hora, na pauta, vinha a seguinte expressão a seguir ao meu nome: prova adiada. Fiquei perplexo, mas depressa compreendi que o professor era tão sofisticado e inovador naquele acto (de reprovar) como o era nas brilhantes palestras que se alargavam às áreas comuns. E percebi mais: percebi que estava a cometer um erro, contra o meu próprio estatuto de futuro pintor e professor, ao ter-me apresentado a exame com tão poucas bases em ordem ao que ouvira durante o ano.
Diz Miguel Sousa Tavares que a anterior ministra, Maria de Lurdes Rodrigues, experimentou começar a mudança por cima: pelos professores. A sua longa e desgastante tentativa de avaliar pelo mérito, responsabilizando também os professores por desajustes abaixo do razoável quanto às falhas gritantes dos alunos, foi derrotada na rua (que não na opinião pública). E foi derrotada pela mais poderosa força em defesa da mediocridadae a que já assistimos em trinta e seis anos de democracia. Diz ainda Sousa Tavares: «todos os que tiveram medo de enfrentar o lóbi dos sindicatos dos professores, com assento diário numa imprensa que prefere tomar partido pelos que berram e não pelos que têm razão», todos esses talvez venham a sofrer o desabar dos nossos interesses formativos após o rompimento da razão profunda de todas as aprendizagens. Claro que é preciso haver, durante o ano lectivo, processos de estratégia pedagógica permitindo ao professor explicar antes o que torna imperativo adiar um ano, entre conteúdos e respostas, a responsabilidade em precariedade do lado do aluno, procurando ainda algum acompanhamento atempado.
Daniel Oliveira considera que a retenção é uma questão meramente metodológica e prática. Não é uma questão de princípio. Podemos ser muito exigentes e não chumbar quase ninguém. Basta sermos bem sucedidos a transmitir conhecimento. Podemos ser facilitistas e chumbar toda a gente. Basta acharmos que a nossa principal função não é ensinar, é avaliar».
O problema da relação ensinar/avaliar terá de valer por um melhor aprofundamento do sentido
da própria vida. Não se ganha por se fazer sempre batota. Podemos adiar uma jogada, porque só dessa forma, em muitos planos do ser, seremos capazes de viajar, com clareza, pelo valor humano e técnico da jogada adiada. Falamos, enfim, de jogada ganha.
1 comentário:
Descendo pelos políticos e politiqueiros que enchem a nossa praça, eu ainda gostaria um dia de ver respeitado o que me parece desejável: um poder legislativo decente (100 bem pensantes e honestos -e bem pagos), um poder executivo capaz de cumprir com zelo a sua tarefa, e um poder judicial comm gente proba e sem sindicatos (que é lá isso, qualquer dia também a AR tem um). No topo, um verdadeiro presidente capaz de impor ordem e fazer funcionar as instituições do poder - como o Mourinho faz funcionar os jogadores.
Mas é aqui que, talvez porque me sinta mais dentro do que sente e expressa, que as suas considerações me parecem verdadeiramente pertinentes.
Pela parte que me toca, estou a desistir de esperar.
Educação é uma utopia.
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