segunda-feira, abril 11, 2011

IMAGENS E GENTE DE UM INQUIETO ACONTECER

LANÇAMENTO DESTE LIVRO NO DIA 16 DE ABRIL, ÁS 18 HORAS

NO HOTEL REAL PALÁCIO, RUA TOMÁS RIBEIRO, 115, LISBOA

Os meus apelos sempre foram de orientação pluridisciplinar, quer quando lia semanalmente «O Mundo de Aventuras», riscando, pelas horas de silêncio, perturbadoras bandas desenhadas, quer quando escrevia, numa velha remington de meu pai, histórias mais ou menos tristes, entre postais ilustrados de palácios em ruinas. Fui, desde cedo, um amador de paixões e um fabricante de brinquedos alternativos.

Terão, os amigos de agora, um fio de escolhas, aliás a oportunidade de ler este livro e reflectir sobre os modos diversos através dos quais a vida de certa gente uma família inteira, por exemplo se concentra e dissolve em planos de imagens inquietantes, a maior das nossas aprendizagens, sem métrica, matemática ou redutores automatismos. Há aqui, de certa maneira, histórias de vida, o enlace a nossa falsa inocência (em meninos) com a palpitação do desejo e do sonho na chegada da razão e da consciência, assim entre a infinidade das percepções enganadoras e os encobrimentos de uma privacidade inalienável.

Viagem dura, enquanto os parentes faleciam e eram enterrados em cemitérios de cal. O trajecto, depois de uma longa e mística travessia do Alentejo, até Lisboa, desconhecida, sem medida nem paz. O tempo, nos cadernos de confissão, voltava atrás, fazia-me visitar as praias, adiantando-se depois até aos trinta anos, para novos olhares a montante e a jusante, sob as sombrias abóbadas da Escola Superior de Belas Artes. Eis como este livro trata de um acontecer inquieto, arrancado à terra, à vida e à morte da família, enquanto se convocam, pela arte, partidas e retornos, memória dos desentendimentos entre pessoas, a sua difícil condição humana. Os velhos professores da memória académica ensinavam coisas elementares e deixavam a aula repousar em silêncio, propícia para a leitura do «Diário de Notícias». Ficávamos, pelo menos, a saber, que o valor lumínico do nariz estava bem acima dos valores baixos, sombras sob o queixo. Apesar de tudo, das acusações conra a precariedade do ensino artístico tutelado na cópia dos Columbanos e Velosos Salgados, não fui molestado nas Belas Artes, nem nada nem ninguém tentou furar-me os olhos.

3 comentários:

Miguel Baganha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Miguel Baganha disse...

Certamente que não faltarão passageiros com vontade de fazer esta viagem, João. Uma viagem ao centro do seu mundo e das gentes que aconteceram tão inquietamente (e ainda bem) dentro de si. Estarei lá, com toda a certeza, homenageando o homem, o mestre, o amigo, por tudo o que fez, pelo tanto que o constitui como ser-humano.

Parabéns por mais um, amigo.
Até logo!

Emerenciano disse...

Não me foi possível comparecer no lançamento do livro e ainda não o vi para o comprar. Estou desejoso de o possuir e ler. Depois de ler o que escreve sobre o livro, ele interessa-me, e interessa-me em especial porque se relaciona com "um inquieto acontecer", e eu revejo-me aqui.

Felicito-o por ser ainda professor e artista também da relação das imagens com as palavras, porque a vida está perto.