sexta-feira, outubro 14, 2011

APESAR DA EUROPA, A PÁTRIA NÃO MORRE

António Barreto

António Barreto, figura grande da cultura portuguesa, que participou em governos pós-25 de Abril, Professor e intelectual com importante recorte filosófico, pronunciou-se há pouco sobre a situação de Portugal na Europa e a fragilidade quase abismal em que parece termos caído. Dir-se-à que é um pessimismo recorrente, ainda que justificado. Ora o dr. António Barreto, no seu lamento, disse que Portugal poderia vir a não ser um país numa Europa diferente e, presumivelmente, reformada. É caso para perguntar se a Alemanha, configurada depois do nosso país, teria direito a continuar a ser o que é. Vasco Pulido Valente, na sua coluna Opinião, anotou o efeito de desagrado que tais palavras terão provocado em certas pessoas. E, embora não conhecesse todas as palavras da intervenção de Barreto, colocou algumas hipóteses. Seja como for, ainda disse não ter percebido «com toda a clareza onde ele queria chegar. Mas percebo, pelo menos, que não percebi nada. Há três possibilidades. Ou o dr. António Barreto se esteve a referir a Portugal como nação, ou seja, como entidade cultural, e, nesse caso, não tem razão ou se estava a referir Portugal como Estado soberano, e, nesse caso, desde o século XVII que não tem razão. Ou ainda se estava a referir-se à autonomia económica de Portugal, e, nesse caso, nunca teve razão.
«Na primeira hipótese, é óbvio que dez milhões de portugueses, com uma língua única, uma literatura erudita, uma religião maioritária (e pacificamente aceite), uma história comum, um império de que restam respeitáveis vestígios (como, por exemplo, Angola e Brasil) e sem qualquer diferença étnica notável formam uma nação. Nenhuma outra unidade política nos quereria absorver. Seriamos sempre uma fonte de conflitos, pior do que os flamengos na Bélgica e muito pior do que os bascos ou os catalães em Espanha. A nossa separação, sólida e formal (não escrevi: independência) garante a tranquilidade dos vizinhos. As nossas desordens domésticas devem ficar rigorosamente domésticas.»
Pulido Valente analisa, com a mesma pertinência as outras hipóteses que colocou para contraditar o fim de Portugal profetizado por António Barreto. Bem vistas as coisas, é fácil fazer tais afirmações de apagamento, porque o próprio planeta já não está muito longe de poder albergar uma espécie em vias de extinção, o Homem. E não se aponta aqui para uma catástrofe demográfica natural.

2 comentários:

jawaa disse...

A pátria portuguesa cresceu demasiado para morrer dentro da Europa. Não tenho receios destes.
Há-de persistir a identidade, há-de haver um descendente de Camões, de Pessoa, quando a Humanidade desabar.

jawaa disse...

A pátria portuguesa cresceu demasiado para morrer dentro da Europa. Não tenho receios destes.
Há-de persistir a identidade, há-de haver um descendente de Camões, de Pessoa, quando a Humanidade desabar.