sexta-feira, outubro 21, 2011

A MORTE DE KADHAFI SOB A RAIVA IRRACIONAL

a ostentação do poder

instantes da morte de Kadhafi

A vida e a morte na plenitude das suas redundâncias, o poder patético, os golpes impiedosos de gente que nem a sua própria história percebe, embora a esteja, em tais instantes, a torná-la mais viável. Morto kadhafi, a Líbia pode aspirar a mudanças positivas, se os povos se entenderem quanto às suas necessárias formas de solidariedade constitucional. Hoje, as multidões festejam o fim do ditador. Gritam, enquanto disparam as espingardas para o ar: «Chamava-nos ratazanas, mas ele é que morreu como uma». E morreu em Sirte, sua terra natal, depois de uma perseguição que o fez sair de um esgoto (Fotos da AFO) onde se escondera a título muito provisório. Os revoltosos instaram com ele para que saísse, abrindo fogo. Então Kadhafi saiu da moldura redonda, segurando os símbolos da sua alucinação ditatorial: uma kalashnikov na mão direita e a pistola dourada na outra. Olhou para a esquerda e depois para a direita e perguntou: «O que é que se passa aqui?» Os rebeldes dispararam de novo, ferindo-o num ombro e numa perna, ataque que o fez tombar. Dois outros tiros atingiram-no no temporal e no peito. O assalto convulsivo ao corpo, com os batimentos mais diversos, é visível num vídeo amador, testemunha que de tanto querer mostrar, oferece-nos um hediondo desfoque de bocados do real, onde uma cabeça ensanguentada rola, é arrastada, aparece e desaparece. Há mais tarde um documento de vídeo em que um homem inanimado e seminu é arrastado pela rua. Fotos da AFO mostram um jovem transportado em ombros por outros homens e ostentando a pistola de ouro que pertencia ao ex-líder da Líbia. Na cadeia destes acontecimentos, vários líbios pintaram a spray grafitis em volta dos canos, junto à auto estrada, em que Kadhafi se recolhera. Algumas palavras dizem: «Aqui escondia-se a ratazana Kadhafi. Deus é Grande».
Esta versão dos factos é «contradita» por um outro vídeo em que se vê Kadhafi ensanguentado, ainda vivo, a ser batido e empurrado por rebeldes junto de uma carrinha pick-up. São fragmentos temporalmente distintos mas não distantes. Há uma informação de um rebelde que assistiu a tudo e declarou à BBC que Kadhafi foi atingido por alguém com uma bala de 9 mm.
Pouco depois das primeiras imagens, na sequência da montagem televisiva, foi possível ver imagens do cadáver já limpo e que mostravam um ferimento de bala na têmpora. Os médicos que acompanharam Kadhafi na ambulância declararam que ele morreu com dois ferimentos de bala, o primeiro na cabeça e o segundo no peito.

Todo este detalhe, baseado em jornais de hoje, dia 21, sobretudo do «Diário de Notícias» não procura vilinizar o homem, nem mesmo a convulsão dos circunstantes. Pela minha parte, sei que a maior parte destas questões acabam assim, sem dignidade de parte a parte. Vimos isso com o tratamento na selva do corpo de Savimbi, rolado sobre cartões, cheio de pó e sangue, filmado pela voragem impiedosa dos que se «livravam» de um herói e o mostravam indigno de si mesmo. De resto, o assassinato de Ceausescu, na Roménia, dado quase em directo pela televisão, é outro exemplo eloquente de tais casos. Ninguém desculpa a vida sangrenta e genocida de tais figuras, mas a grandeza de os julhar, mesmo a título póstumo, é respeitar os seus despojos. Não é vão nem pueril escrever estas palavras: o mal não está só nesses personagens, está em cada homem, mesmo quando não o parece. E não inventamos a cremação para acabar com os nossos concidadãos, já mortos, como a Inquisição acabava com antepassados nossos, vivos e na fogueira.


detalhes do ataque final a Kadhafi


Savimbi exposto às moscas, como peça
de caça que vai ser avaliada e esquartejada

2 comentários:

End Fernandes disse...

Perfeita linha de raciocínio!
eu acredito muito nisso tambem
a maior herança que ele deixou foi um povo vingativo que aprendeu com ele a propria engenhosidade do mal
é triste? é e muito!
mas em meio a tudo isso muitos soltam fogos...

Abraço

End Fernandes

Miguel Baganha disse...

É assim que a "vilipendiada" humanidade grita a sua justiça todos os dias: «olho por olho e dente por dente». Aqui, neste caso ignóbil, literalmente.
Penso que se trata, acima de tudo e mais uma vez, da histeria irracional que a força das massas catalisa.

Vingança? -- Não. Justiça? -- Muito menos. Respeito e tento compreender a revolta de todos os inocentes que sofrem nas mãos de uma ditadura mas, tal como o caso público de Savimbi, Ceausescu ou até mesmo Saddam Hussein, eu classificaria o acto abjeto que matou Kadhafi como animalidade pura e crua. E os media, quais aves necrófagas pairando sobre as carcaças putrefactas ajudaram á festa,é claro.

O que vimos (e continuamos a ver) é o retrato vergonhoso do mundo actual. Só pra que conste: vivemos no século XXI.