sexta-feira, novembro 25, 2011

EDUARDO BATARDA, OBRA E SUAS MUTAÇÕES

EDUARDO BATARDA

Nasceu em Coimbra em 1943. Filho de professores universitários, começou por estudar Medicina. Mas foi na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa que havia de estudar pintura, passando depois mais três anos no Royal College of Arts, em Londres. Na década de 60, as suas aguarelas pop mexeram com o mundo artístico nacional. O seu humor corrosivo e a ironia acutilante traçaram um percurso que só veio a romper-se nos anos 80. De lá até hoje, cada vez mais monocromático e austero, Eduardo Batarda manteve a singularidade da figura fundamental que representa na arte contemporânea portuguesa. Depois de ter sido galardoado com o Grande Prémio EDP, Serralves dedica-lhe a partir do próximo sábado, dia 26, uma grande retrospectiva.
citado da revista Única do Expresso


As obras que deram a Eduardo Batarda um lugar súbito e relevante na pintura portuguesa, entre os anos 60 e 80, partem de representações pop, trabalhadas a tinta da China e aguarela, com recurso a uma iconografia agressiva, vinda sobretudo da banda desenhada e das conquistas da sociedade de consumo, vaidades vãs, adolfes pequenos, suásticas voando, céus líquidos onde os papagaios flutuavam, anjos toscos, sibilinos, além de abutres conjugados com bandeiras, larvas, heróis americanos, de lá ou da Inglaterra, em dissolvência com fantasmas das mitologias locais e jogos perversos já então anunciados.
Eduardo Batarda passou por se divertir com essa produção e é verdade que ainda o vi, nas aulas da ESBAL, riscando com destreza linhas surpreendentes e figuras ainda mais no suporte de papel. Bonecos de sarcasmo e figuras caricaturais, da finança, da política ou das forças armadas. Tudo em composições que abarrotavam de sinais e símbolos, esquartejadas pela ironia de um imaginário muito raro entre nós, mesmo quando o humor era pedra de toque da nossa cultura.


A partir dos anos 80, e tendo o artista assumido a docência na Escola Superior de Belas Artes do Porto, hoje, a par da de Lisboa, integradas como faculdades no Ensino Universitário, Universidades do Porto e de Lisboa. As grandes mutações da obra de Batarda começaram próximo deste ciclo. O artista passou a abordar o recorte de planos sobrepostos, aproximando-se de tons pardos e em continuidade. Essa sua produção está a viver de forma plena, mutável, embora não nos faça esquecer, nem a primeira parte deste percurso nem a grandeza dos espaços negros onde surgiam, a branco e de forma algo porosa, traçados arquitecturais, bolbos suspensos, esboços de objectos cuja origem nos agarrava de forma obscura, e ainda coisas da mecânica arqueológica, sempre num projecto inconcluso, corolas de flores perdidas.


Em recente entrevista concedida à revista Única, Batarda falou amplamente de si, procurando defender a sua viragem e a problemática que decide a sua pintura actual. Mas falou também da condição dos autores em Portugal, do esquecimento e das presenças mitigadas, ser ou não ser citado no art World, entre a análise acutilante do que é preciso fazer para triunfar e ter sucesso específico em Portugal. Ele não está esquecido, tem agora a sua grande consagração, mas é verdade o que diz no que respeita às cedências públicas e publicitárias, no trajecto do tráfico de influências que nos cerca todos.
Muito bela foi a sua homenagem ao trabalho da filha, a actriz Beatriz Batarda, bem como as afirmações destacadas de que acredita na literatura e na arte, em todas as coisas que o comovem.

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