domingo, dezembro 30, 2012

MORREU ONTEM O CINEASTA PAULO ROCHA

  
cineasta Paulo Rocha
falecido, com 77 anos, a 29.12.2012
 

        
 plano do seu último filme


                plano do seu primeiro filme «Verdes Anos»

plano de «Ilha dos Amores»

A morte de Paulo Rocha, cineasta que chegou a ser assistente de realização na rodagem do filme «Acto da Primavera», de Manoel de Oliveira, fez o cinema português perder mais uma figura de referência: o jovem que soube pesquisar aspectos da Lisboa dos anos 60, no seu primeiro filme («Verdes Anos») aqui ilustrado. Ele morre pouco tempo depois de Fernando Lopes, de tão grande importância, gerando assim, como que simbolicamente, um vazio nos vazios do nosso país desde há três anos a esta parte. João Mário Grilo escreveu sobre este acontecimento, dizendo: «É um momento muito triste para a cultura portuguesa (...) Paulo Rocha foi o que melhor soube fazer, a relação entre a poética do cinema e a poética do país.» Tanto ele como Fernando Lopes souberam usar a arte para interpretar a vida» coisa que não é nada fácil entre transformações que, durante todo o século XX e parte do actual, descarnaram saberes e técnicas em nome da novidade pela novidade, encobrindo o visível que Klee tentou explicar para pôr ao nosso alcance a complexidade do real. Cada filme de Paulo Rocha, nesse sentido e nas suas normas de simplicidade, é uma luta contra as diversas novas vagas de que foi contemporâneo. «Há uma conjuntura que Paulo lê muito bem e incorpora-a». E assim procura dar a cada filme a natureza dos objectos singulares (como em toda a obra de arte mais rara sempre acontece), de tal modo relacionando personagens e história. Ou, como diz Grilo, fazendo desses filmes, também, invulgares ou grandes documentários sobre a vida portuguesa.
Paulo Rocha pertenceu ao tempo em que «as pessoas tinham muito poucos meios para filmar». Bem sabemos que isso joga contra os  verdadeiros autores, pois o cinema só se torna possível através de alianças muito sólidas, desde os fundos económicos aos meios técnicos e logísticos. Por isso a personalidade aqui citada sublinha com eloquência: o ecrã é também uma pele muito fina entre o cinema e a vida.
Aqui dizemos, pela nossa parte; os homens do cinema já aprenderam, em Portugal, a sua linguagem e a maneira de poupar os meios sem deixar de zelar pelo sentido da imagem e voz que nos oferecem. Os distribuidores e exibidores não aprenderam nada: minimizam os meios, oferecem caixas claustrofóbicas e rudimentares como salas de projecção, para desdobrar, na maior tacanhez, os sítios de «exibição», nunca em nome do cinema, sempre em nome do dinheiro. É preciso acrescentar a isto, na morte de alguém que sofreu na pele tamanha exiguidade, que as salas onde se explora entre nós o cinema não ganham  qualquer «reajustamento»  através de tão equívoca austeridade. E sempre aos berros, como se as máquinas servissem para triturar imagens e bandas sonoras.

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