domingo, março 18, 2007

A BELA E O MESTRE



Julgam os donos, directores e programadores das televisões que elas foram inventadas para se servirem a si mesmas e servirem a sustentação publicitária, fingindo, por outro lado, servir públicos néscios, incapazes de alguma adaptação ao vínculo cultural dos media, aos poucos produtos que são ricos de conteúdo humano e existencial, programas que aprofundam o ser do mundo e a estética da imagem. Pensam ao contrário, os donos das televisões. Habituaram-se ao contrário, os donos das televisões. Enquanto os programadores, com o aval dos Conselhos de Administração, copiam ou arrendam os mais reles produtos deste domínio. Anos e anos seguidos, nunca se passou disto, com heróicas excepções.

A BELA E O MESTRE, novo programa da sacudida TVI, podia traduzir-se perfeitamente, no estilo das novas televisões, por GAJAS BOAS E O MONSTROS DA CULTURA GERAL. O país -- aquele país que por vezes acede à noção de equilíbrio psíquico e à solidariedade -- quase entrou em choque, apesar de bem habituado a cascatas de asneiras, ruído de horror para captar audiências em círculo fechado de publicidade. Como dizia uma pessoa minha conhecida: «a estrutrura desta merda é profundamente machista, eles rascas e falsamente sábios, elas boas e burras até ao infinito». Ali estão tendenciosamente vários casalinhos, um quarto de quatro estrelas **** para cada um deles. Casalinhos a fingir, cultura quanto baste, homens desencontrados das mulheres, luxo visual, europa para o lixo, apelo ao consumismo e à grandeza tipo pato bravo de três estrelas*** Leio que a «A Comissão para a Igualdade» estuda uma queixa contra «A Bela e o Mestre». Ainda há quem se indigne. Aquilo custa dinheiro aos montes e esta gente das televisões parece não se dedicar à invenção de programas, arrenda-os ou compra os direitos aos americano. A produção da Endemol é assim sugada pela Fox: concorrem jovens bonitas, mas (aparentemente) de grande ignorância, e rapazes deslambidos, embora (supostamente) debitando alguns cavalos de cultura geral. Juntam-se arbitrariamente, um casal por quarto, como se disse, comprometidos a estudar quem é o Fidel de Castro ou se o Infante D. Henrique era espanhol. Fazem umas provasinhas físicas, sempre bestas e indignas, e assim é suposto que cada casal «evolua» em «competitividade», num complicado sistema de votos, nomeações e expulsões (como sempre) a fim de o escolhido no termo do programa ganhe 100.000 euros. A imoralidade e a estupidez por bom preço, o país aparvalhado, gente a protestar. E um membro do júri residente acabou mesmo por desabafar: «não há pachorra para o tipo de estereótipos veiculados pelo programa». Várias «associações femininas» e outras personalidades de respeito consideram o programa prejudicial a vários níveis, pois «humilha as concorrentes física e intelectualmente, partindo do eterno estereótipo da mulher burra e do homem inteligente, da oposição entre beleza e inteligência».










2 comentários:

Maria disse...

Mas será esta a televisão que merecemos?

Boa noite

Cataclismo Cerebral disse...

Infelizmente se calhar até é! Quando a maioria dos telespectadores assiste a isto, pouco se pode fazer para contrariar e melhorar o panorama televisivo.

Abraço