António Gonçalves, com uma exposição intitulada Impossibilidade, no Palácio Galveias, entra perfeitamente nestas nossas «contas» de ir revelando autores portugueses contemporâneos, sem cronologia ou referência de idade, apenas pela oportunidade, pela revelação de certas experiências no campo das artes plásticas.
A narrativa articulada pelas fotografias reinventa ou ficciona um trato de mercado de arte impróprio, pois tanto podemos estar diante de um acto de secretetismo, com aspecto ilegal, como de uma simulação de tudo isso e alguma discrepância noa meios, quer no disfarce arquitectónico dos lugares, quer no uso de um sumptuoso carro que não se ajusta ao outro tempo, embora possa pertencer ao domínio dos instrumentos de certas actividades do mercado ilícito de hoje. Se as pinturas, trazidas pela rua nas mãos (assim parece) do próprio autor, não podem estar a montante do espírito que as criou em e simultaneidade com a sua verdade subjectiva a jusante, agora. Isso retira-nos a possibilidade de relacionar os objectos e os sítios, e a própria actividade das criaturas, num tempo imensurável, parecendo relacionar-se com o mercado obscuro da arte, pertencendo a um tempo sem medida de todas as ilicitudes. Assim armadilhada a nossa visão, passando por uma poética de formas paradoxais, resta-nos a solidão de quando somos o último espectador a sair do teatro, refazendo vezes sem fim o sentido das cenas e o seu repetido desconserto.
Como a arte não é, quanto parece, um campo de revelação, os que lhe dão corpo ou fingem copiar o visível, ou apontam a uma autonomia fundamentalista ou legam ao espectador a mentira de cada representação. A mentira assim produzida pode ser um caminho de efeitos precários, mas pode também sagrar-se como alibi de uma verdade escondida. Klee definiu este difícil nó com grande lucidez: «a arte não reproduz o real, torna-o visível» Daí, em boa medida, a sua raridade.
Quem são estes homens vestidos de preto? O pintor acaba por ser o próprio Gonçalves. Depois de esperar, os homens apropriam-se das pinturas, pela calada da noite, enchendo o carro de luxo. Que máfias são estas?. Como é que uma pintura pode ser objecto de comércia, nestes e noutros moldes?
A mentira da representação muda, rara e difícil, sobre a realidade talvez passe mesmo pela mercantilização da beleza e pelo equívoco das fotografias aqui referidas, ambígua teia de sgnificantes e significados que o usufruidor das aparências pode indiciar entre filosofias divergentes ou convergentes. O consumo megalómano do mundo contemporâneo não se reserva para uma arte problemática: prefere pagar uma arte caríssima e que pouco mais pode fazer do que anunciar a sua própria morte.
N: com base nos textos de Pinharanda
4 comentários:
uma pequena representação em forma de "isntalação" ao vivo, ou cena exposta (para arte fotografica / cinematografiaca) onde o significado do ser e do estar dos personagens, das "coisas", do lugar e do ambiente/tempo é ambíguo propositadamente, levando-nos a olhar e encontrar as possiveis histórias da máfia.
Mais um artigo que me agradou bastante lêr... as imagens especialmente inquietantes.
Um beijinho
para os dois Mamijohn
hehehehehehhehe... esta é do Miguel... com carinho
Daniela
Estás nomeado no meu blog....
E estás à vontade para ficar quietinho e fazer nada...
Desculpa, mas tinha de ser...
Um abraço
Os meus PARABÉNS tiomeu.
Por aqui neste mundo virtual e já a ser nomeado como um dos melhores, heim?!?
Eu tenho as minhas razões para o considerar o melhor, pois tem sido coerente no usar da sabedoria como artista, critico de arte e de política e sempre com um cuidado e respeito quando tem de apontar o dedo a alguém.
Fiquei muito contente com esta pequena surpresa.
Um beijinho enorme e mais uma vez parabéns...
Daniela
Todos os comentários que deixas no meu blog eu leio-os, claro, e normalmente dou resposta. Lá no blog.
É evidente que todos os comentários são muito importantes para mim. Até acho piada às leituras, às vezes tão diferentes, que os vários bloguistas fazem do que eu escrevo...
Um abraço
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