MURDER BALLADSJorge Abade apresentou há pouco tempo, na galeria Sopro, uma exposição consolidadora da sua obra e inspirada num disco de Nick Cave que diverge um pouco das músicas mais divertidas. Agora há «violência e tensão», também «esperança e beleza de luto». E Jorge Abade, na tensão da metamorfose, tendo em vista inserir esta realidade mutante na sua pintura, inventa metáforas de inocência e guerra, apropria-se do corpo, transforma-o através de próteses parciais dele mesmo, retrato impossível em geminações trágicas. O novo organismo parece despojado de ideologia, de projecto de bondade. O mundo de «O Homem Elefante» não resiste a esta monstruosidade aparentemente vencedora. Muitos nos avisam da ausência de futuro, na incapacidade de nos reconhecermos de novo. O retrato de Bacon será sempre a metamorfose sedutora da sua distorção. Assim acontecerá com as belas criaturas de Jorge Abade, incapazes de desalojarem a evocação da guerra, mesmo em armas de plástico, e hastes a florescer como troféus ilusórios. Tragicomédia autodestrutiva, o retrato ao espelho intemporal reflecte baladas da arte contemporânea na hipótese assassina do jogo que se joga em volta.
N. este texto, do autoe do blog, foi publicado no JL de 25 Abril 2007
2 comentários:
Gostei muito desta associação, como boa fã de Nick Cave que sou (aliás, o meu nick, Betty Coltrane, é precisamente "roubado" a um lado B deste mesmo álbum, "The Ballad of Robert Moore and Betty Coltrane", presente no single de "Where the Wild Roses Grow").
A exposição está ainda patente, ou saiu já de exibição?
Seja como for, e a avaliar pelas imagens aqui presentes, a relação foi frutífera. Nick Cave tem uma poética muito própria, que se reflecte em toda a sua obra (escrita, músical,etc...) e se torna imediatamente identificável para quem com ela tenha já contactado. "Murder Ballads" foi um ponto de viragem, uma charneira, uma síntese - todo um mundo que merece ser explorado, e que aqui o foi de modo muito interessante.
Se me permite uma sugestão: "The Willow Garden", também um lado B do single "Where the Wild Roses Grow", pela voz de Conway Savage - que cria uma atmosfera sublime através da relação voz/violino. Nunca a morte me soou tão bela!
Bom feriado!
Betty
Trabalhos feitos com projetor...Nick Cave não necessita de muletas para compor, Jorge Abade necessita!
Onde está a ética nisso?
José Dias
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