domingo, novembro 25, 2007

UM PERFIL PORTUGUÊS


Pulido Valente, historiador, escritor, cronista, comentador, homem de ideias, surge aqui, na capa da Visão, menos expedito do que costuma ser. Expedito no sentido de atalhar de súbito, entre revelações que ninguém espera, demolindo à esquerda, demolindo à direita, calando vozes, gozando frases, argumentando com agúcia e por vezes após uma colherada de pimenta que nem ele. Sempre gostei muito de o ler, do tempo das crónicas do Independente, mesmo quando caricaturava os próprios erros e os erros dos outros.
Há dias, quando foi vedeta de capa, respondeu a uma entrevista de Ana Soromenho e Rui Castro, assim numa espécie de breve depressão. No início da peça jornalística, foi destacada esta sua fala: Pedi a Cavaco que se candidatasse. Portugal precisava de um polícia. De facto, Vasco Pulido Valente almoçou com Cavaco Silva porque os grandes negócios em Portugal fazem-se com o Estado ou com informação do Estado. Só a presença dele em Belém coíbe muita gente. Referia-se a Cavaco. Mas a seguir considerou que as conversas com os políticos não servem para decidir nada.
Acerca de Sócrates, Pulido disse que nem se lembrava de o ter visto em pessoa e que ele, o primeiro ministro, é de uma pavorosa mediocridade. Pior: é um homem que tem uma linha de pensamento convencional. Que assenta em todos os lugares-comuns deste tempo e reproduz de uma maneira tosca esses mesmos lugares-comuns.
Com este sério depoimento, Vasco Pulido Valente aproximou-se inexoravelmente do perfil dos portugueses.

2 comentários:

jawaa disse...

Depois de Carreira Bom e Raul Rego, resta-nos a sua pena demolidora.
Pena que o blog, mal iniciado (um ou dois escritos seus), não tenha tido asas...

miruii disse...

Que o Deus dos humanos proteja este Mestre vivo!
Picada submissa (aos dois...)