domingo, março 09, 2008

ENSINAR NA RUA: O SACRIFÍCIO



Todo o ensino, entre quase tudo, passa hoje pela imposição do espectáculo, em certos casos pela violência, a par da drástica redução do aprofundamento, espiritual e prático, da pessoa humana. É o que se verifica, nos últimos tempos, em mais uma crise das reformas, com um governo cada vez mais fustigado por diversas oposições, no terreno da mera recusa, sem alternatívas que exprimam a diferença bem sustentada dos planos em curso. O governo, no seu pragmatismo e projectos relativos ao processo de alteração do sistema educativo, foi ontem fustigado talvez pelo maior movimento de rua congregado pelos professores e seus simpatizantes, mesmo que não se perceba com toda a clareza, o erro que cria condições capazes de mobilizar oitenta mil manifestantes cuja circulação em Lisboa ganhou força inusitada, que a encenação própria, de camisolas, frases, slogans e bandeiras, mais sublinharam o afrontamento. Apesar de algumas arrojadas iniciativas de reordenamento da rede escolar, de concentração de competências e de «vinculação» dos docentes provisórios às escolas por períodos de três anos, contra um ano apenas, o grosso dos problemas logísticos, de particularidades locais, está muito longe de ser resolvido, a par daquele que se levantou entretanto, o da avaliação dos agentes educativos no seu desempenho, conhecimentos e actividade pedagógica.
Num artigo de opinião, no Expresso de 8 de Março, Sousa Tavares explicou, com grande propriedade, o seu ponto de vista sobre o assunto. Perante o pedido insistente de demissão de Maria de Lurdes Rodrigues, ministra da Educação, ele considerou que a sua «queda teria o efeito de um toque a finados por qualquer futura tentativa de reformar o Estado e mudar o país». Trata-se de um problema que se tem complicado, não apenas neste ministério. O da Saúde sofreu graves oposições, acabando por desalojar o ministro e redireccionar algumas práticas. «Desde que há Ministério, desde que há Educação, desde que há democracia (cito o mesmo articulista), que não me lembro de a Fenprof e os sindicados da Educação terem deixado de exigir a cabeça do ministro ou ministra em funções.» Lembro-me das incompreensões (mútuas) no tempo de Cardia, logo apelidado de fachista, e dos erros de perspectiva, pelo menos no caso do Ensino Superior Artístico, cometidos pelos seus assessores ou Directores Gerais. Marçalo Grilo, muito antes de ser ministro, não concebia que houvesse estudos de arte ao nível da Universidade, nem lhe parecia que o país necessitasse da implementação de cursos de design. Esta situação, escorada na espera da «vontade política» e na ideia dos timings, provocou efeitos nefastos no país, no desenvolvimento do ensino Universitário e na qualificação de certos sectores da nossa produção especializada, retendo no mesmo «posto» muitos especialistas deste ramo por trinta anos sem promoção e direito a provas entretanto previstas. A resolução deste problema surgiu, treze anos mais tarde, durante uma «distracção» de um Secretário de Estado, e com isso, nem antes nem depois, se preocuparam sindicatos, gente da cultura, manifestantes próximos.
Esta lembrança ocorre-me a propósito da actual situação e tendo em conta que a maioria dos interessados não sabe, nem nunca chegará a saber, quais os movimentos de bastidores, oportunismos, temores, ignorâncias ou birras dos próprios técnicos de especialidade nos departamentos governamentais. A bola de neve cresce de tal maneira que, a certa altura, já ninguém se entende. E os erros, técnicos e políticos, aumentam a cada passo, esmagando o que o próprio ministério poderia estar em vias de resolver. A bem da verdade, e considerando erros como os que referi, penso que a actual contestação, entretanto focada sobre a avaliação dos professores, se expande também em termos desproporcionados relativamente ao «pequeno» nó do processo reformador em curso. Os próprios activistas, docentes e alunos, vão acabar por se prejudicar, entre passos atrás, cabeças degoladas, remendos impróprios. Como dantes, mesmo perante orçamentos para a Educação que têm sido sustentados sem faltas e com apropriações de equipamentos, meios, trabalho interactivo durante interessantes formas de profissionalização ou concepção didácticas. De facto, como foi dito no Expresso, o campo da luta sindical, sem verdadeira evolução, acabou por deixar, ao fim de trinta anos, graves marcas por defeito. «Os sindicatos da Educação tiveram uma contribuição decisiva para sucessivas gerações de alunos se prejudicarem e para a derrota nacional na frente educativa.
Por mim, sou apologista de um trabalho de avaliação em exercício, como se dizia hà vinte anos.
A carreira docente no plano do secundário, deveria ter, ajustadamente, três níveis de categorias. A primeira avaliação deveria ser solicitada pelo docente ao cabo de seis anos ou oito anos de serviço, garantindo-se uma rede de escolas para esse efeito, com todo o apetrechamento necessário e conteúdos bem concebidos para as disciplinas, cursos, ligação ao campo profissional e universitário. Os avaliadores, recrutados com rigor e formados para as novas funções, teriam a seu cargo vários docentes em avaliação, acertando com estes um programa de trabalho e de tese, observando prestações programadas, propondo medidas complementares ou outras. Entre um outro grupo de professores de completamento, mais presente junto dos docentes sujeitos a este processo, adicionados a uma turma, deveriam escolher-se, de forma a estudar, orientadores de trabalho e pesquisa que acompanhassem de mais perto os elementos em avaliação. Avaliação que poderia terminar com uma entrevista final feita por júri abalizado. Ao Estado competiria proceder às escolhas, reforço de formação dos avaliadores, além de outros, a par do estabelecimento da rede de escolas destinadas a esta actividade, escalonando e calendarizando pedidos de avaliação (entre seis a oito anos).
A luta que se exprimiu em Lisboa no dia 8 resultou num espectáculo revivalista, sem conteúdos verdadeiros, sem substância ou alternativa do processo científico. Fazer cair a ministra, sem um projecto adequado aos problemas, é comprometer a Educação e o país. Os ministros também aprendem. Os bons professores, da mesma forma. Até Marçalo Grilo saberá hoje qual a importância do design e como o ensino artístico é integrado nos estudos superiores por toda a Europa. Se vários governos gastaram treze anos das nossas vidas e do nosso saber para encontarem a sua vontade política, tal lição deveria impressionar professores, sindicatos e governo a fim de aperfeiçoar os suportes de avanço neste trajecto complexo e carregado de urgências.

2 comentários:

jawaa disse...

Espero sinceramente que não rolem cabeças. Afinal isto tem de ser resolvido PELAS ESCOLAS e parece que veio já a abertura por parte do governo. Os professores vão perceber que a escola tem de avançar em muitos sentidos e que eles é que têm de fazer a mudança, com a flexibilidade necessária de adaptação a cada contexto. Há muitos e bons professores a pensarem deste modo.

Carla disse...

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Uma Páscoa Muito Feliz
Beijos