O Século XX, revolucionando muitos conhecimentos, indústrias e projectos, abriu perspectivas a viagens fora da atmosfera terrestre. A astrofísica e as tecnologias da navegação no espaço, em plena imponderabilidade e contudo a altas velocidades, desenharam por sua vez uma nova utopia, à qual, aliás, os escritores do género literário da ficção científica emprestaram fascinante verosomilhança. Depois de muitos desenvolvimentos temáticos em torno destes assuntos, e à luz do saber actual, o homem sabe que a sua espécie terminará, lenta ou de forma abrupta, ao ritmo das leis cósmicas, da vida e morte das estrelas, do choque entre galáxias, dos buracos negros, do próprio envelhecimento e pulverização do sistema solar, daqui a curtos milhões de anos. Aparentemente, a fabulosa criação da espécie humana, dotada de inteligência avançada, de capacidade criadora apoiada no amplo espaço da consciência e de próteses que quase imitam a vida, é uma realidade tão poderosa que parece ter meios de se prolongar para além do seu curto destino biológico. As hipóteses desse sonho, tão acalentado pela biologia molecular e outros ramos da ciência, ajudaram ao desenho de absorventes utopias do homem para além de si mesmo. Entretanto, numa perspectiva tecnológica ainda artesanal, os países mais poderosos (e agora por alguns mais) dedicaram-se a estudar práticas de viajar no espaço ( a Lua foi o primeiro astro que o homem conseguiu atingir, explorando aspectos estruturais em cada breve visita) e assim se esquematizaram projectos de aceder a Marte, enquanto centenas de sondas dirigidas à distância têm estudado quase todo o sistema solar, ultrapassando-o em perda no espaço indizível. O sonho de estabelecer bases vitais em certos planetas, ou muito longinquamente noutros sistemas propícios à vida humana, ganha «forma» na construção de uma estação espacial que orbita em torno da terra e que foi agora acrescentada de mais um módulo de grande importância para estudos naquele sentido e no apoio aos estudos que os cientistas astronautas desenvolvem no habitat ainda irrisório da estação. Daqui, em construção lateral, já é viável projectar uma viagem a Marte. Mas Marte parece inóspito. Para além dele, os satélites de outros planetas acenam com breves ilusões. Eternizar a vida humana para além das fronteiras do nosso sistema solar, procurando instaurar colónias bem longe, noutros sistemas e astros, configura uma ideia que não deixa de ser fascinante e quase que se torna em novo culto, numa demorada esperança. Porque as comunidades se interrogam cada vez com maior angústia sobre a condição humana, suprema «invenção» da Natureza, de um Deus que nunca veremos, algo de grande complexidade, coisa raríssima, e contudo «destinada» a pequenos segmentos de afirmação, vidas individuais de 70 a 90 anos, médias menores no mundo inteiro, um «projecto» para se desfazer poucos minutos depois de ter sido «concluído». Mais um milhão de anos, dois ou vinte, segundos no tempo Universal, e não seremos nada se não reabilitarmos o corpo, as fecundidades em perda, viajando o mais depressa possível para habitats adequados ou adequáveis ao prolongamento do ser.
Veja-se, nas fotografias, a azáfama de doze horas no vazio em torno da Terra, para dar mais corpo a uma coisa que não se sabe bem para que servirá daqui a três ou quatro gerações.
1 comentário:
Fascinantes somos nos, com este poder de alma que nos faz sonhar impossiveis em galaxias distantes.
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