Leio jornais, naturalmente, cito jornais, obviamente. Mas desta vez não me sinto tentado a recortar a tragédia que nos envolve um pouco por toda a parte. Apetece-me antes, depois de conhecer Sofia Escobar na capa da revista Actual Expresso. Fui ler porque ela me fitou como se me conhecesse de há muito tempo. E a sua história, que é muito bonita, exemplar a vários títulos, ajuda-nos a acreditar nas pessoas e deixa-nos ficar gratos ao texto sensível de Ricardo Marques, enviado especial a Londres, com o fotógrafo Tiago Miranda, porque desta vez o jornal teve gente que pensou quantas prioridades destas costumamos perder pela força de populismos menores e vícios redutores da cultura que também nos cabe.
Sofia Escobar é uma jovem de 28 anos que, sem perder o fio à meada, resistiu sempre a amordaçar a sua vocação de actriz e cantora lírica. Teve, sobretudo no pai, em Guimarães e contra a sua timidez, determinação para prosseguir o apelo profundo que a envolvia.
Entre as revelações da infância, a primeira aventura, e mais tarde uma escolha que misturou os estudos e o canto, Sofia viu-se compensada, aos 18 anos, a frequentar o Conservatório do Porto, auto-suficiante, ofuscada pela pela trepidação da cidade, um ambiente com música por todo o lado, as aulas, gente nova, sonhos em volta.
Arrisca a partir para Londres. O seu amigo Fernando aconselhou-a a partir. Agora, em Inglaterra, estão no primeiro andar onde Sofia mora com o namorado, também actor. Ela evoluiu muito como actriz. Fernando considera que ela é uma profissional extraordinária, confiante e extraordinária. Ao falar a Ricardo, a actriz «lembra os dias em que comiam arroz com ervilhas três vezes ao dia, por não haver dinheiro para mais nada, noites perdidas a trabalhar como empregada de mesa, dos cereais com leite e dos bairros perigosos onde moraram».
Em um dia, na procura esforçada, Sofia reparou num anúncio de jornal para audições destinadas a recrutamento qualificado para participação no «Fantasma da Ópera». Foi escolhida, depois de oito meses de audições e testes. Como conta o jornalista, o pai de Sofia viajou de Portugal para a estreia e chorou do início ao fim.
Tudo isto é mais do que sonho: é vontade, vocação, capacidade de lutar e vencer obstáculos, entre afectos e uma decisiva integração no meio. O que Sofia faz não apenas profissionalmente, ou sempre fez, entrando pela multidão, criando pausas, instantes a contemplar o Tamisa e sempre a batalha pela identidade artística.
Enfim, os capítulos desta jornada sucedem-se de forma incisiva, talvez antecipando muito mais coisas. Sofia está a assumir o papel de Maria, «a doce rapariga que se apaixona pelo maior rival do irmão no musical WEST SIDE STORY» As diferenças do que se comenta abaixo, são ensurdecedoras. «Maria acaba a peça de arma em punho, sem namorado nem irmão, ambos vítimas da guerra entre os Jets e os Sharks, dois grupos na Nova Iorque dos anos 50.
Haveria muito mais para dizer sobre a sensibilidade e a actriz, esta portuguesa que talvez anuncie uma geração com minorias de grande valor e às quais o país tem que prestar a melhor das atenções. Há cerca de um mês, esta jovem portuguesa, cuja viagem pelo estudo e pela prestação de reconnhecida actividade profissional se mostrou desce cedo muito relevante, foi nomeada para a categoria de Melhor Actriz de Teatro Musical na votação do site whatsonstage. Trata-se de um facto que nos deve merecer o maior interesse: porque ela já ganhou na própria nomeação. A selecção foi feita por críticos e está aberta ao público até 31 de Janeiro.
1 comentário:
É uma pena que não haja uma maior divulgação do valor desta geração de portugueses que se vêm afirmando em todas as áreas, das Ciências às Artes, e de que tanto necessitamos para elevar a auto-estima deste país.
A nossa TV estatal(RTP1)deveria preocupar-se bem mais em preencher horários de grande audição com programas mais apropriados à elevação do nível de interesses de quem olha. Educação faz-se assim.
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