de A ESPUMA DAS COISAS
António Mega Ferreira
Notícia
Este espectáculo de encenação de um pseudomartírio pela liberdade atingiu o auge com o desfile de «pressionados» e «pressionantes» a que a Comissão de Ética da Assembleia da República deu guarida, palco e tempo de antena, nas últimas semanas. Não posso deixar de notar, como cidadão, que, enquanto se tratavam questões de imperioso interesse nacional como o Orçamento e o PREC, ou as eleições para a liderança do principal partido de oposição, as páginas dos jornais e os noticiários de televisão foram servindo de câmara de eco a um cortejo de lamúrias, indiscrições, meias-verdades e delações que, à hora a que escrevo esta crónica, já tinham chegado a Morais Sarmento (que foi ministro de Durão Barroso) e a António Costa, que não está no governo há três anos. Francisco Balsemão, que, além de empresário, sempre foi jornalista, encarregou-se de relativizar estas «pressões», ele que, tendo sido primeiro-ministro, deve saber bem do que fala. Mas, para lá da reverência da praxe, ninguém lhe prestou atenção.
Há clara desproporção, parece-me, entre o alarido e a matéria de facto: por enquanto, do alegado plano governamental para o controlo dos media só há a convicção não fundamentada de três ou quatro jornalistas e não-jornalistas, expressa por vezes em termos histriónicos e despropositados, infelizmente tolerados pelo presidente da comissão. Tudo, claro está, ouvido da boca de terceiros, porque ninguém falou de «pressões» directas, o que deixa bem claro que as mesmas nunca existiram. O momento mais hilariante foi o da mirabolante «revelação» de que o primeiro-ministro teria telefonado ao Rei de Espanha para lhe pedir que intercedesse para o afastamento de uma apresentadora de telejornal de um canal privado... Que ego, senhores, que ego!
Sem comentários:
Enviar um comentário