Chegámos de muito longe e conservamos, da nossa remota origem, certas marcas, memórias difusas e liturgias indecifráveis. A condição humana implica um conjunto de actos, desejos e relatividades entre os membros de cada comunidade, sob a chuva que molha, na passagem por situações idênticas a muitas outras, e aqui a ganhar valor simbólico, a evovar as personagens de Bosch, seres insulares, oblíquos, desterrados do reino dos cubanos nesta florida jangada de pedra. Alguém se embrulhou no insólito caso das escutas, em plena campanha para as legislativas, em Portugal, bem se vê, e perdeu eleitorado ao promulgar a lei do casamento homosexual e resumiu a situação do país numa só palavra, aliás terrível: «insustentável». Falamos de Cavaco Silva, (o Silva, como dizia D. Jardim), Cavaco presidente de todos os portugueses, um político que parece ter compaixão por esta figura boschiana, ajudando-a a sustentar o barrete, a enfrentar chuvas e tormentas, a ponderar as eleições presidenciais que certamente serão protagonizadas pelo homem de Belém. Este documento jornalístico (Expresso, incluindo algum vocabulário) tem uma grandeza pictórica, uma obscuridade medieval, e é capaz de cavalgar muitas larachas insulares, multas, zangas, contradições, dívidas no estilo cubano, obras e obras que a jangada quase não suporta, uma coisa, em grande, mas a lembrar a anterior ilha de Faro.
domingo, agosto 08, 2010
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1 comentário:
À semelhança das personagens de Bosch ou até mesmo de Brueghel, Cavaco Silva personifica, neste texto pungente e caricatural, o simbolismo político de um sistema baseado na tentação, pecado, intriga, absolvição. Por outro lado, o imaginário do pintor flamengo, insigne surrealismo preso na obscuridade da hegemonia cristã nada tem que ver com o quadro apresentado: feito de uma realidade burlesca, ás claras, onde o barrete enfiado é a única peça de roupa que estes políticos não despem.
Não obstante, penso que Bosch sentir-se-ia agraciado pela analogia satírica em sua memória.
Um abraço, mestre.
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