sexta-feira, agosto 27, 2010

UM PAÍS ARRASADO PELA LAMA E APESAR DA FÉ

fotos publicadas na Sánado, do Sundy Times

O inefável tecto do mundo, aravés do qual Deus nos espreita, desfez-se em água, na maior quantidade de sempre, e arrasou em larga medida o Paquistão, submergindo paisagens inteiras e dizimando pessoas, animais, plantas, culturas, como nunca acontecera até ao mais remoto índice destes fenómenos. Cerca de sete milhões de hectares arável ficaram submersos numa cheia sem precedentes. Cem mil cabeças de gado morreram nas inundações e as que sobreviveram estão a ser roubadas por grupos de ladrões, no mais cruel dos males fratricidas. A contagem das pessoas atingidas mortalmente por esta catástrofe parece ultrapassar os dois milhões, enquanto vinte milhões de desalojados têm errado em trágicas derivas ou sido socorridos pelos mais diversos meios, embora muitos se acantonem em pequenos rectângulos de território, na esperança da sobrevivência, num último alento quanto ao possível auxílio. De resto, setecentos e noventa milhões de euros correspondem à estimativa das colhietas destruídas.

Todos aqueles, povos e governos, que se distanciam destes problemas e jamais os desejarão relacionar com males cíclicos, desta vez entrosados e precipitadas pela acção humana, terão de suportar um dia (nem sequer muito longínquo) em que a sua sbrevivência se encontrará perto do ponto zero de algum amanhã, como que entrando na mais pobre de qualquer verificação substantiva. A cadeia de incêndios, todos os anos repetida nem sequer pelo poder divino, continuará a ser ateada por negligência, falta de civismo ou mãos assassinas ao serviço de obscuros «projectos» e dos mais sórdidos interreses, numa ganância que também se globaliza. E enquanto ninguém pensa nisso, retardando políticas ambientais profundas, os sistemas de sustentação planetária vão começando a caducar, mares subindo, gelos escorrendo, territórios desertificando-se, a atmosfera como que mudando de natureza. A brutalidade do que aconteceu no Paquistão em nada demove os terroristas do «saque». No norte do país, os agentes da polícia têm ordens para disparar sem aviso contra os saqueadores. Enquanto isso, e onde ainda se podem tentar resgates materiais, a população retira das suas casas em ruínas parcos haveres, coisas utilizáveis, guardando tais bens onde for viável, já que os ladrões se atiram a quaisquer valores transacionáveis, aparelhos, frígoríficos, fogões, tudo o que, nessa linha, cai na sua aproximação. Os agricultores têm sido os mais atingidos por esta praga não menos odiosa do que a diluviana.


Tanta desolação, em tão grandes áreas, é realidade que merece grande reflexão da parte de toda a gente, dos próprios paquistaneses agora vítimas dos seus compatriotas profissionais das armas, da guerrilha, do saque seja a quem for. Enquanto o actual sistema económico mundial agrava crises e promove trocas imensas nos corredores do banditismo internacional, das lutas religiosas e sectárias, parece que os homens desafiam os deuses da sua fé, perdendo-se entre causas atroadoras, entre várias hipóteses de fomentarem um inqualificável confronto civilizacional.

Malik Fiyyaz, um agricultor de 50 anos que perdeu dez hectares de plantações e teve um prejuizo de setenta e três mil euros, queixou-se da seguinte forma: «Estamos a viver na miséria». Ele recordou a morte de um dos seus vizinhos ao ver todas as suas colheitas perdidas e a história de outros dois que perderam todo o seu gado, sobretudo roubado por saqueadores. Também eles comentaram, segundo a revista «Sábado»: «Vai levar tempo até conseguirmos reconstruir os nossos recursos, mas havemos de o fazer. Não temos outra opção».

E as crianças, que opção têm elas?

3 comentários:

Miguel Baganha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Miguel Baganha disse...

Se o Homem não mudar o seu estilo de vida, nulas serão as opções dessas crianças. Este cenário de catástrofes globais e "naturais" não são mais do que um grito de revolta do nosso planeta: é «a atmosfera como que mudando de natureza.

Penso que a própria fé já está cansada de tanto tentar mover montanhas.

jawaa disse...

«Mas as crianças, Senhor
Porque lhes dais tanta dor
Porque padecem assim?»

O nosso EGOÍSMO passa sem ver essa expressão magnífica. Quem pensa nas crianças, no futuro delas, apesar dos avisos cada vez mais fortes da natureza?