No Expresso de hoje, 16 de Outubro, Miguel Sousa Tavares escreve sobre os resgatados mineiros do Chile:
«O Chile deu uma lição ao mundo e soube aproveitá-la, com planeamento e sabedoria. Durante 24 horas, milhões de pessoas, da China à Patagónia, tornaram-se fisicamente familiares daquele quarteto que, mais ainda do que os mineiros, ocupou a boca de cena o tempo todo: o Presidente Sebastián Piñera e a sua primeira dama, o cinematográfico ministro das Minas, uma espécie de António Mendonça austral, e a já-não-muito-jovem loira das relações públicas (...) Piñera aproveitou cada minuto de transmissão para efeitos de propaganda interna e externa. Ignorou ostensivamente o contributo da NASA para a construção da Fénix e não só, o papel determinante do americano chamado à pressa do Afeganistão para manobrar a perfuradora que chegou ao abrigo (...)
Nada, porém, teria funcionado se não fosse a extraordinária lição dada pelos mineiros, eles próprios. Dezassete dias sem comunicação com o exterior, sem poder dizer que estavam vivos, sem saber se os procuravam ainda e racionando a comida que dava apenas para dois dias. Um líder assumido desde o início, um chefe de turno que, não só não fugiu às responsabilidades, como se impôs para assumi-las. E uma capacidade de resistência, uma vontade e determinação exemplarmente patentes no texto da mensagem enviada para cima, ao fim de dezassete dias, agrafada à sonda que, enfim, os descobriu: "1. estamos todos bem no refúgio. 2. somos 33". Repare-se: nenhum apelo desesperado ("salvem-nos"), nenhuma queixa inútil ("não temos comida, as condições são terríveis"), nada. Apenas o que interessava saber cá em cima. A partir daí, esperaram, confiaram, prepararam-se para a hora do resgate e fizeram questão de sair barbeados, limpos, calmos, dignos: nada de sair como mártires, sujos, miseráveis, a apelar ao sentimento e à desgraça. Essa foi a grande lição: os grandes momentos exigem grandes homens»
1 comentário:
Verdade: os grandes homens fazem os grandes momentos.
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