quinta-feira, outubro 07, 2010

REPÚBLICA PORTUGUESA, CEM ANOS E DOIS DIAS

ilustração alusiva à proclamação da República Portuguesa



Foram vontades e sonhos, a revolta contra o abismo, algumas consciências visionárias. Portugal mudou de regime com a proclamação da República a 5 de Outubro de 1910. A comemoração dos cem anos da República propriamente dita decorreu há dois dias, mas as ressonâncias foram de molde a cuidar ainda do facto, passando apenas alguns sinais dessa história conturbada e fascinante.
A primeira acção da I República que se colou aos meus olhos e ao meu espírito, além das conversas ouvidas durante a infância, foi o cuidado havido em instaurar um verdadeiro ensino artístico, embrião de um tipo de cultura que é inerente à realidade da civilização. Quando ingressei na ex-Escola de Belas Artes (depois superior, depois integrada, como faculdade, na Universidade de Lisboa) começei a perceber a história deste ensino maldito, sempre na rectaguarda do que se foi fazendo na Europa. Mas os republicanos, vivendo uma revolução complexa, entre golpes e governos de poucos meses, institui aquele ensino em 1911, um ano apenas depois do seu começo. Mal ou bem, com mestres de academias e frouxa modernidade, a verdade é que o conceito integrava uma visão própria de progresso. E, apesar das várias e tímidas transformações das Escolas de Belas Artes, atrás só nomeadas, a verdade é que um novo regime demonstra uma nova ideia ao fim de um ano. E essa ideia, defeituosamente instalada pela elites do tempo, acumulou atrasos e mais erros, tendo chegado ao seu verdadeiro nível ao fim de um tempo de cobardia de cerca de 90 anos. A própria democracia proporcionada pelo 25 de Abril de 1974 (e esta já é uma generalização incerta) só criou condições para fazer avançar o ensino superior artístico 13 anos depois das primeiras comissões da Escola terem feito chegar ao parlamento e aos governos para lhes lembrar o que, neste âmbito, já deviam ao país e à sua substância ce cultura e civilização. Ninguém percebia o que era isso, os artistas foram transitoriamente declarados como desnecessários, e um posterior acaso de pessoas e de certas circunstâncias permitiu abrir a tal luz ao fundo do tunel, entre vários meses de trabalho de uma Comissão providencial. Os governantes (em Portugal) demonstraram quase sempre, nessa época, uma enorme desactualização sobre as questões da cultura, realidade que não permitiu a criação de um espírito nacional aí ancorado, sede da abertura ao futuro -- como bem compreenderam os republicanos de 1911.

Não vou reiterar, noutros campos a comemoração deste centenário, porque isso está feito e as festividades tiveram pontos fortes, apesar da crise que nos atinge neste momento. O Viva à República será assim (talvez) um dito e uma imagem que emblematizam a hora, cem anos atrás.

Apesar da agitação havida e dos recontros de frentes de acção política. É inquietante e libertador ler a história da I República.


a hora dos revolucionários

À noite do dia 4 a moral encontrava-se baixa entre as tropas monárquicas estacionadas no Rossio, devido ao perigo constante de serem bombardeadas pelas forças navas e nem as baterias de Couceiro, aí colocadas estrategicamente, traziam conforto. No quartel general discutia-se a melhor posição para bombardear a Rotunda. às três da manhã, Paiva Couceiro partiu com a bateria móvel, escoltado por esquadrão da guarda municipal, e instalou-se no Jardim de Castro Guimarães, no Torel, auardando a madrugada. Quando as forças da Rotunda começaram a disparar sobe o Rossio, revelando a sua posição, Paiva Coiceiro abriu fogo provocando baixas e semeando a confusão entre os revoltosos. O bombardeamento prosseguiu com vantagem para os monárquicos, mas às oito da manhã Paiva Couceiro recebeu ordem para cessar fogo, pois ia haver um armistício de uma hora.
Entretanto, no Rossio, depois de Paiva Couceiro ter saído com a bateria, o moral das tropas monárquicas, julgando-se desamparadas, piorou ainda mais, devido às ameaças por parte das forças navais com bombardeio. Infantaria 5 e alguns elementos de Caçadores 5 garantiram que não se oporiam ao desembarque de marinheiros. Face a esta confraternização com o inimigo, os comandantes destas formações dirigiram-se então ao quartel-general onde foram surpreendidos pela notícia do armistício.
Quando as tropas retiraram do Rossio, e com a saída à rua por parte dos populares, a situação tornou-se muito connfusa, mas já favorável aos republicanos, dado o evidente apoio popular. Machado Santos confronta o general Gorjão Henriques com o facto consumado e convida-o a manter-se no comando da divisão mas esterecusa. Machado Santos entrega assim o comando ao general António Carvalhal que sabia ser republicano. Pouco depois, pelas 9 horas da manhã, era proclamada a República por José Relvas, na varanda do edifício da Câmara Municipal de Lisboa, após o que foi nomeado um Governo Provisório, presidido por membros do Partido Republicano Português, com o fim de governas a nação até que fosse aprovada uma nova Lei Fundamental. 1
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1. O triunfo da revolução, consultado em Wikipédia, a enciclopedia livre

Lê-se e não e acredita, parece quase uma opereta um uma performance amadorística, não contando com a instabilidade posterior, entre grandes sonhos para um país novo e a derrocada já anunciada a montante, no estertor da monarquia. E depois parece um guião para o 25 de Abril, esse dia morno em que os carros de combate de Salgueiro Maia «acantonaram» no Terreiro do Passo. Houve a Junta de Salvação Nacional e também uma Assembleia Constituinte para redigir outra Lei Fundamental, agora já em começo de roptura numa crize mal explicada e mal gerida, eventualmente o início de uma Superior Reforma à escala global, como tanto se apregoa. Mas de verdade ninguém sabe verdadeiramente em que consiste essa globalidade e se deve ou não ser combatida quanto antes. Lá porque as comunicações o permitem, não parece razoável deitar ao lixo todos os enxovais e apertarmos o botão de uma mútua mortandade.

uns esperando por outros, um passeio armado pela Rotunda

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