sexta-feira, dezembro 05, 2014

O IMPERADOR CLÁUDIO E A PASSADEIRA VERMELHA



Imperador em termos de «Coordenador». Coordenador de um programa televisivo que se chama, em jeito de revista badalada nos consultórios médicos, Passadeira Vermelha e acontece num cenário de mau gosto excelente, com vários maples brancos, puffs por ali, em meia-lua, as câmaras todas arrumadinhas do nosso lado, do lado do telespectador. O plano geral mostra tudo com clareza, enquanto Cláudio se espreguiça ou deita nos bancos à esquerda, esperando que os outros falem ou falando ao mesmo tempo de todos.
Procurando o primeiro plano, ou um protagonismo em gritos e palavreado fragmentário, Cláudio não tem as divisas todas, segundo o manifesto oficial deste regular evento. «Ligada desde o primeiro minuto à SIC CARAS, Liliana Campos confessa-se feliz com este desafio profissional que chegou há menos de um ano à sua vida.» (sic)

Liliana Campos, de facto  a Imperatriz

Liliana, que faz o trabalho de casa com esmero, falando depois  dos modelos e das actrizes em cascata, incluindo há dias um belo requiem pela Duquesa de Alba, considera o balanço do programa positivo. Está a gostar muito de «fazer o projecto». E acrescenta: Identifico-me cada vez mais com a «Passadeira Vermelha»

Fornecidos estes primeiros dados, entre a apresentação de modelos enrolados em vestidos intragáveis, piores ainda pelo cacarejo sobreposto de todos os presentes, ou a dor escondida da Jolie, ou pareceres sobre famílias reais, e ainda, no prato do mesmo dia, a problemática da homossexualidade, novas famílias, meninos sem trauma, por aí adiante, sem rigor nem citações capazes. Claro que é uma vergonha pôr em causa a orientação sexual das pessoas, o seu direito à adopção, constituindo uma verdadeira família. Só que esta causa social não é assim tão simples e as fontes de saber sobre ela deveriam ser abordadas com muito mais profundidade. O mesmo se pode apontar àquelas falas disfuncionais sobre as relações sexuais, comportamentos femininos e masculinos, diferenças e semelhanças, um ruído constante onde se ouvem vocábulos como tamanho, posturas, coisas prosaicas, o assunto rolando no acaso do que vem à boca.


Plano geral que confirma o dispositivo atrás referido. O programa «Passadeira
Vermelha» é um talk-show em directo, de segunda a sexta-feira, no canal SIC CARAS. A apresentação desta pérola dos audio-visuais está a cargo de Andreia Rodrigues, Liliana Campos e Sofia Cerveira, as quais são acompanhadas do painel de comentadores Cláudio Ramos, Pedro Crispim e Luísa Castel-Branco, todos dizendo diferentes «abordagens e olhares sobre a actualidade social, nacional, internacional» -- sempre «com humor e boa disposição», acentua a propaganda. Até se fala, para  breve, em várias iniciativas, como lançamentos de livros, exposições, estreias de cinema. É preciso abrir já as gavetas dos nossos talentos. De contrário, aparecem os amigos e os génios de circunstância. Mas não é assim que se faz isto assim.

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