Há sítios, em certas cidades e aldeias do interior, que nos apresentam coisas de grande contraste e ironia. Veja-se este caso curioso: os meninos ladinos da rua, grafitavam sem zelo paredes e empenas, perturbando com esse ruído visual as coisas em volta. Desactivado o cinema, construção desproporcionada com mão de engenheiro, a empena sul, desgastada e cega, era por vezes atacada pelos rapazes dionisíacos, que atiravam latas de tinta, superando Pollock, à parede vagamente branca. Pacientemente, os responsáveis pela cidade e o dono do cinema «paraíso», pintaram de novo toda a parede e mandaram chamar os «meliantes». Disseram-lhes que as leis são para cumprir e que o dadaismo deles enlameava uma cidade ultimamente bastante cuidada. Por isso lhe faziam uma proposta: que eles pintasse a sério, na faixa inferior da parede, e que depois logo se via. Esta acto pedagógico (algo arriscado) resultou nestes bonecos aqui apresentados: não se tratam de grafittis de cunho superior, como se vê por esse mundo fora, mas nota-se o desejo dos «artistas» em minirar os impulsos e controlar a mensagem.
Ali perto, muito perto mesmo, há uma longa fila de casas térreas, dos anos 40, onde moraram muitos operários corticeiros. Quando esses operários tiveram de migrar ou emigrar, pela destruição daquela indústria transformadora, houve descendentes dessas gerações perdidas que por ali ficaram, remoendo os dias e conservado o tecto. O mundo espalhou mal as oportunidades. Mas posso garantir-lhes que o carro estacionado diante do prédio pertence a um membro da nova comunidade. Um descendente de outra maneira de trabalhar. Coisas do tempo.
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