A imagem deste homem que transporta raros víveres num chapéu de chuva invertido, simulando breve embarcação, surge num contexto de águas de cheia, poluidas, lamacentas, e dir-se-ía enquadrado em algum daqueles cenários recentemente evocados aqui, a propósito do cinema de Tarkovsky. O clima é patético. E o acontecimento verificou-se há três dias na zona metropolitana de Lisboa, de súbito como que revelada cidade do terceiro mundo, submersa em pontos cruciais e em poucos minutos, mercê, sobretudo, da incúria dos homens, da ganância cega que rompe com todas as regras ecológicas e conduz à contrução em leito de cheia de montanhas de casas geminadas, sem circulação estudada, sem vias de escoamento, sem plantas, paisagens inenarráveis bem perto de qualquer epílogo castratosfista de alguns livros de ficção antecipadora e terrivelmente coisificada no actual estado do clima ou dos efeitos nefastos de tecnologias pesadas, dependentes das maiores voragens sobre os meios naturais da terra.
Pensemos no texto alinhado com a fotografia anterior e vejamos agora esta outra imagem afinal semelhante à primeira, de há poucos dias também, obtida noutras cheias de assombro, em Moçambique. Este velho homem percorre o possível caminho da salvação, na estradinha submersa, e transporta igualmente alguns meios de sobrevivência, seguido de perto por meninos deslocados, que sugerem um conhecimento determinante de situações destas, regulares, apavorantes. Sub-desenvolvimento e civilização tecnológica avançada sob os mesmos avisos e incorrendo nos mesmos erros.
3 comentários:
Rocha a segunda imagem não abriu.
Algum erro na hora da postagem?
Abraços.
Na pertinência de tudo o que escreve, creio ter havido um erro.
E não precisamente na falta da imagem que refere o Rafael, que aqui me aparece linda (e saudosa, ainda que dorida), mas no título: não se terá enganado na sequência desse XXI...???
Solidarizo-me em silêncio com a sua sensibilidade.
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