Considerando o que tem sido afirmado ultimamente sobre Barack Obama e a sua candidatura a Presidente dos Estados Unidos da América, bem como a agudização do entusiasmo por esta personalidade e pelos seus recentes discursos, havia ontem, dia da tomada de posse no cargo alegadamente conquistado com inegável mérito, grande expectativa quanto ao que iria dizer o novo Presidente à Nação e ao Mundo. Em estado de disponibilidade perante a cobertura televisiva que se desenvolvia, ouvi as palavras de Obama e achei-as apropriadas, de uma abrangência forte e até dorida da América, sobre a sua natuureza e o seu poder, além da bem caracterizada esperança na força humana do país para vencer a crise em que se encontra mergulhado. Palavras de esperança, forma cativante, humanismo bem expresso.
Estas impressões, que hoje me foi possível confirmar nas traduções do jornal, pareceram-me, na altura, de uma inteligente obviedade, peça de oratória calorosa, com diagnósticos sintetizados e logo projectados na largueza enunciadora de uma grande convicção no futuro.
Contudo, ontem, pouco depois do discurso e com os seus comentadores a postos, os canais de televisão portugueses abriram debates sobre o acontecimento. Os comentadores nascem como cogumelos e, neste caso, havia dois que nunca tinha visto. Língua não lhes faltava, sem parcimónia nem cuidado analítico. A «ferida» era fresca, as palavras mal tinham acabado de chegar até nós. Mas aquele senhor, aliás como outros que o meu espanto foi solicitando, abocanhavam a prestação de Obama, considerando-a menor, generalista, cheia de lugares comuns, incapaz de ultrapassar o já visto, pobre na alusões a qualquer projecto palpável. Era uma torrente de certezas críticas que só tenho podido apreciar frequentemente após os jogos de futebol. Já nas bancadas, os amantes daquele desporto, assumem credenciais de julgadores, de árbitos, até mesmo de treinadores, quer quanto às escolhas, quer quanto às tácticas. No caso do discurso, ontem, as bancadas tinham enviado comentadores de política (ou temas similares) para os estúdios. Esta natureza azeda e de espúrios convencimentos tem vindo a afirmar-se entre nós, talvez por causa da crise, ou porque os temas sobre as finanças e a economia, na actual incerteza dos números e dos desastres, haja implementado o espaço oferecido aos oportunistas, aos ouvidores, inquisidores e ministros de sentença. Eles aí estão. Mesmo que eu não tivesse percebido nada das palavras sonoras de Obama, ouvir estes críticos só críticos em negatividade, tão apressados e tão convencidos, acabaria por me convencer da minha esperteza, maior do que a deles, alegadamente.
2 comentários:
Pois é, bem o entendo. Às vezes também tenho dúvidas se não são esses senhores que são burros, de tal maneira fico espantada com a pressa e o vazio com que falam das coisas. Porque, julgo eu, para opinar é preciso maturação do pensamento.
Antes de deliberar, devemos ser capazes de analisar cuidadosamente todos os factos. Algo que estes incautos "conversadores da treta" geralmente não fazem. Limitando-se a debitar palavras inconsequentes, que se destinam a um povo tacanho e desprovido de opinião própria.
Gostei da " bastonada", João!
Um abraço,
Miguel
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