Manuel Alegre, poeta antes de tudo, espírito cuja vontade política se tem vinculado ao Partido Socialista, tem ultimamente atravessado, não um deserto, não uma anhara, mas uma certa invernia belicosa, inusitada e chata. A perplexidade tem tomado conta do poeta, aceno de criação próxima ou apelos das esquerdas coloridas. A verdade é que Manuel Alegre tem sido um importante protagonista da vida nacional, entre os factos da glória abrilista até essa hora em que se candidatou à Presidência d República, acabdo por somar um punhado de votos razoável, pérolas para negociar entendimentos e os sinuosos asssédios da esquerda. Tais forças sonham com um partido, o poeta a presidi-lo. Com a sua nobre presença no hemiciclo da Assembleia da República, Alegre está feliz e perplexo ao mesmo tempo. Não pode deixar de lembrar-se do PDR, aventura de Zenha e Eanes. E isso mais o impele para segurar bem a cabeça, rasurando breves declarações. Contudo, ali no seu canto, vai mandando (da esquerda gráfica e bem pensante) algumas setas ao palco do poder, deliciando-se certamente em pensar pela sua mesma cabeça e votando a suspensão do estatuto de avaliação dos professores, novelo imenso inventado pela inamovível Ministra da Educação, fístula do Sistema, método sinuoso e de discutível utilidade científica.
Sócrates, Primeiro Ministro cujo plano já deu frutos em fábricas de componentes sofisticados, já em exportação para 47 países, foi apanhado pelas ventanias da globalização e pela língia viperina de institucional Manuela Ferreira Leite (PSD). O homem tem algumas virtudes, entre as quais a determinação. O destino foi-lhe adverso: o universo financeiro e económico do mundo inteiro, em tempestade apocalíptica, espalhou no caos as peças do velho xadrez lusitano. O Primeiro Ministro tem um barco de pequeno calado, o que aumenta riscos de naufrágio, e tem ainda, pelo que lhe resta, um duelo de cavalheiros com Alegre e, sem contar com mais uma cabala na orla do imobiliário, Sócrates tem de contar com a sentença ensurdcedora ditada por Manuela Ferreira Leite, que o designa assim, crispada e arrogante: «Sócrates não é o salvador da pátria, mas posso garantir, com toda a certeza, que é o seu coveito»
Manuela não tem jeito para a poesia, como se vê, e estes palavrões não auguram nada de bom para uma gestão moderna e pontes de colaboração. Coisas assim inundam no exemplo do Eixo do Mal (TVI) onde os participantes, que sabem tudo e como fazer tudo, desatam em algazarra e graças de uma qualquer encenação snob, chiquérrima intelectualmente. Coveiro de Portugal? Em 2009? Donde vem esta conversa? O Alegre devia chamar a si um aceno pertinente, de mão em cutelo. Esta delicada caricatura do poeta, além de se interrogar sobre futuros partidos e jovens cantando e rindo com as suas fardas e bandeiras verdes, devia soletrar admoestações aos que maculam a dignidade dos outros e procuram enterrar a verdade poética. Nesta imagem singular, desenho de um excelente autor português que já citámos atrás, o poeta está perplexo. Ora a Pátria enche as páginas da sua obra poética er não é justo que ele, tantas vezes empolgado nas lides da revolução, apague a sua voz forte sem desfazer o equívoco de certas metodologias políticas: Coveiro da Pátria? Há grosserias que um poeta não deve ignorar.
4 comentários:
- Já viste como vai a nossa política, poeta?...
" Sim... é deprimente.
Mas além disso, há outra coisa
Que Me atormenta... "
- E o que é!?...
" Já não se escuta a poesia
Nas Coisas. "
- é verdade...será que
Já não há poetas? "
" Não. A poesia é que se tornou
Silenciosa demais. "
- Estou perplexo.
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Um abraço,
Miguel
Pois eu tenho muita pena de não termos um presidente-poeta... era lindo e o nosso Portugal merecia!
Mas «não nos dão o que merecemos» e está visto que o não soubemos conquistar.
À outra conquista o nosso poeta já não vai a tempo, e é pena que não dê conta disso, para canalizar esforços para onde é preciso.
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