sábado, agosto 07, 2010

OS EVENTUAIS BEATOS DO FREEPORT NATURA

Mário Crespo

A pergunta não se dirige a Mário Crespo, obviamente, figura respeitável do nosso universo televisivo. A pergunta deve ser colocada por ele, que todos os dias, semanas e semanas a fio, tem indagado o Processo Freeport até à exaustão, um pouco em surdina, como é agora seu hábito, outras vezes interrompendo de razões algum dos muitos convidados: políticos, juristas, ecologistas, gente do mundo e do estrelato. Eu não percebo porque é que um homem desta craveira, que estudou lá pelas Américas ou coisa semelhante, se obstina desta forma com um tema vulgar, enovelado em telenovela pelos jornais e pelas malfeitorias dos julgadores de rua. Fala-se (isso já percebi) em políticos implicados, porventura o próprio 1º Ministro, na concessão de licença para a obra, colada a uma área de conservação natural, processo esse que teria trazido às mãos de alguém quantias significativas. Agora, como toda a gente já sabe, do processo resultaram dois incriminados, sendo o mesmo arquivado, resmas e resmas de papel com inquéritos e audições em torno do tema, nos quais foram ouvidas muitas e muitas personalidades de nome solene. Mas, ao darem ordem de arquivar todas essas inquirições, que sobraram da gesta do Seixal, dois procuradores vieram a correr juntar, da sua parte, 27 perguntas dirigidas ao 1º Ministro, mais um acontecimento por acontecer na corrida dos boatos e tempo disponível, cerca de seis anos. Penso: cá está o gato com o rabo de fora. Era o 1º Ministro que toda aquela gente farejava, para ser pelo menos arguido e se vendesse mais papel, se arranjasse um longo processo em caso de haver provas q.b. capazes de abalarem algum juiz, ou, enfim, se fechasse tudo, uma década mais tarde e sem indemnizações, por alegada falta de provas, porque as que pareciam bastar não comoveram uma Justiça de olhos vendados. Será esta a história do ensaio da cegueira, presumido para o futuro por Saramago? O Jornal de Sexta, da TVI, interpretado por Manuela Moura Guedes, caíu por causa desta história e ficou tudo mal contado, incluindo o desabafo do 1º Ministro, já então personagem nebulosa da história, personalidade que, desde o Freeport e do comentário feito àquele especial magazine de TVIsexta, nunca mais deixou de ser zurzida em canal aberto e até interrogado por uma Comissão de Inquérito, nomeada, para esse assunto, pela Assembleia da República.
Eu estou inocente, garanto. Estou a interrogar interrogando-me, a fim de ver para além da névoa que esconde, desde há séculos, D. Sebastião. Parece-me óbvio que Sócrates não tem condições para ousar parecer o rei sem norte. Mas, certamente, há-de perguntar a si mesmo, porque carga de água anda o Mário Crespo neste imenso pantanal, sem se cansar, descurando as suas virtudes técnicas e culturais.

1 comentário:

jawaa disse...

É uma questão pessoal e Mário Crespo não esquece o que afinal não é tão importante assim para os outros. O que ele esquece é que, com esta posição de insistência, arrisca-se a abalar a sua condição de grande jornalista isento.
Como Cavaco Silva não esqueceu as suas quesílias pessoais, esqueceu que era Presidente da República e deveria ter estado presente na despedida do Nobel de Literatura, fosse quem fosse e agora sujeita-se a considerações em círculos culturais que deveriam incomodá-lo porque ficam mal ao país.