quinta-feira, agosto 17, 2006

A FACE DO TEMPO OUTONAL






foto rocha de sousa
Setembro vive a sua passagem para as contingências da face outonal do tempo. Entre esperanças de recomeços, a fome. Entre olhares para a distância, o sonho. Soltam-se nas cidades reactivadas os jovens da decadência universal e os combates, pelas mais diversas razões, acontececen um pouco poor toda a parte. Os grandes espectáculos do consumo são máquinas de exploração trivial mas engordam comerciantes e gestores de futilidades.
Ali pelo Alentejo, a cheirar a brisas, há um palacete antigo, de latifundiarios emigrados, que se tornou sede do município e foi pintado de um amarlo intenso. Amarelo entretanto esbatido, tocado por manchas vazias, como grandes sobras inertes.
Os velhos, despojados das searas, sentam-se em bancos de pedra, olhando por vezes o cinsento da casca dos sobreiros e ouvindo, longe, bem longe, o ruídos dos carros passando na autoestrada. Os cães, também sem trabalho e gemendo a sua fome e a sua ternura, passam pelos velhos, ficam a olhar para eles, à espera de uma voz, de uma dádiva. Só bem tarde, e antes dos velhos, se arrastam para dentro das casas, sentindo a escassez dos próprios cheiros e deambulando pela tijoleira à espera do osso do jantar.
Neste como noutros casos, os ossos foram sempre duros de roer.

Sem comentários: