terça-feira, fevereiro 19, 2008

ESTAMOS PERTO DA NAVE DA ESPERANÇA



Na época nobre da literatura de ficção científica, Edmond Cooper, com o seu livro «A Nave da Esperança», enfrentou o problema da nossa finitude, da finitude do próprio planeta em que vivemos. Perante a crise global da sustentabilidade da vida em geral, na Terra, as Nações uniram-se para lançar indefinidamente no espaço uma espécie de «Arca de Noé», uma imensa máquina capaz de se refazer e refazer, no seu interior, o ciclo da vida. Uma comunidade de eleitos, os melhores e mais estruturados em todos os níveis, foi treinada para viver nessa nave, reciclando materiais, nomeadamente os biológicos, tendo filhos e adestrando-os naquela habitat, embora ninguém se devesse desligar da memória das origens e de toda a história do homem, incluindo dados completos das tecnologias mais avançadas, sob o sinal de um Objectivo geral, a de um dia as futuras gerações desenvolvidas na Nava da Esperança puderem encontrar, algures no Universo, um lugar compatível com a vida e o prolongamento da espécie. O Objectivo envolve, não expressamente, um certo sentido místico, a ideia de um renascimento constante, e assim Edmond Cooper descreve a vida na Arca, a sua renovação, um percurso entre sistemas estelares e planetas, as pausas de pesquisa em todos esse lugares quando pareciam indiciar condições para ancoragem e sedimentação. Durante séculos, a Nave da Esperança gravitou por longas distâncias no Universo até chegar a um ponto muito semelhante ao Sistema Solar donde havia partido. Cooper não se atreveu a consolidar a Utopia: as sucessivas rotas alternativas haviam trazido a Nave de volta à própria Terra. Não havia mudado grande coisa naquele núcleo constituído pelo sol e pelos antigos planetas registados em todos os seus aspectos. A procura do que tinha características aparentemente compatíveis com a vida do homem levou o Conselho de Entidades de comando a perceber o que se havia passado. Infelizmente, pelas minuciosas observações efectuadas, a Terra tinha mudado de forma radical: a humanidade que aí ficara, cultivando a espera e a mesma dilacerante competitividade, suicidara-se através do despoletamento de todas as reservas nucleares. O planeta estava inteiramente destruído e contaminado para milhares e milhares de anos, apesar da imagem pacificadora que oferecia no fundo negro do Cosmos.

1 comentário:

jawaa disse...

É o que vai sobrar de nós: a massa linda e azul a vogar no espaço.