terça-feira, fevereiro 19, 2008

O MUNDO AINDA VIVE NA IDADE DAS TREVAS

pintura colectiva: Cruzeiro Seixas, Mário Botas

No livro «deus não é grande», Christopher Hitchens assume um eloquente debate com os crentes, apresentando argumentos contundentes contra a religião e a favor de uma abordagem mais laica da vida, sobretudo pela leitura atenta e erudita dos textos religiosos mais importantes. São dele, a terminar aquela obra, as seguintes palavras:

A religião esgotou todas as justificações. Graças ao telescópio e ao microscópio, já não oferece explicação para nada importante. Antigamente, nos casos em que podia, por força do seu completo comando de um panorama mundial, impedir o surgimento de rivais, a sua decisão era impiedosa e assombrosa. Agora só pode dificultar e atrasar - ou tentar abrandar - os avanços mensuráveis que fizemos. É verdade que por vezes os admite astuciosamente. Mas fá-lo para poder escolher entre a irrelevância e a obstrução, a impotência ou a reacção imediata, e com esta escolha encontra-se programada para seleccionar a pior das duas. Entretanto, confrontada com panorâmicas internas nunca imaginadas do nosso próprio córtex em evolução, dos limites mais recônditos do universo conhecido e das proteínas e ácidos que constituem a nossa natureza, a religião oferece aniquilação em nome de deus, ou então a falsa promessa de que se levarmos uma faca aos nossos prepúcios, ingerindo bocados de pão, seremos «salvos». É como se alguém a quem foi oferecida uma fruta deliciosa e fragrante fora de época, amadurecida numa estufa feita com muito trabalho e amor, deitasse dora a polpa e o sumo e mastigasse taciturnamente o caroço. (...)

A prossecução da investigação científica, sem entraves à disponibilidade de novos achados para massas de pessoas através de meios electrónicos simples, revolucionará os nossos conceitos de pesquisa e desenvolvimento. Será imporante situar o divórcio entre a vida sexual e o medo, entre a vida sexual e a doença, e ainda entre a vida sexual e a tirania, passos que podem agora pelo menos ser tentados, com a única condição de banirmos todas as religiões do discurso. Tudo isto, e não apenas, estará pela primeira vez ao alcance da nossa história, porventura ao alcance de todos nós.

2 comentários:

fernanda f disse...

Pois, as religiões...Mas, e Deus?
Para mim não tem nada a ver com as religiões que se servem de um conceito de Deus para controlarem todo o mundo. É tudo uma questão de poder.
Por outro lado, a ciência explica tudo?

jawaa disse...

A religião já não deveria ter lugar, mas ela parece necessária enquanto educação(?) básica.
A metáfora da fruta foi sempre utilizada pela religião, contra a lógica da razão: há que roer o caroço que a polpa vem depois.
O mundo da investigação cresce em progressão geométrica...