sexta-feira, setembro 22, 2006

AS PALAVRAS DIZEM AS COISAS

São horas de vozes ocultas, murmúrios, meninos falando nos quintais, lá fora, eu atrás das persianas e sempre a usar luzes artificiais, doseadas na intensidade que imitava o dia. Fazer e desfazer, quase como nessa extraordinária ideia de que um quadro é uma soma de destruições, sofrendo a minha própria angústia perante os conteúdos indizíveis, alterados em metáforas pobres, em sucedâneos oblíquos, apenas capazes de apontar uma retórica alternativa no caminho aberto à frente, sobre nova tela. Desenhamos e colamos entretanto, quem me fala de longe? As velhas fotografias eram uma dolorosa inspiração, algo que renascia da sua ruína ou da sua referência, ocupando assim o lugar transcendente que se define na obra de arte e do qual não pressentimos senão aquele sopro de existência - a brisa que nos anuncia uma respiração ainda vital.
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pequeno excerto do livro A Culpa de Deus, de Rocha de Sousa

3 comentários:

P. Guerreiro disse...

Vou estar atento...
Um abraço e bom fim de semana!

Pé de Salsa disse...

Estes pequenos excertos "aguçaram-me" a curiosidade.
Outubro, está aí!
Espero que o livro venha logo para as livrarias do norte.

Um bom fim-de-semana.

naturalissima disse...

Tio
Infelizmente não estarei presente no dia do lançamento deste livro que tanto anseio ler...
Mas prometo assim que regressar de Moçambique, vou comprá-lo!

Um bom Domingo para si e tia Mami
Beijinhos
Daniela