quinta-feira, fevereiro 08, 2007

COLUMBANO REVISITADO

  • Columbano Bordalo Pinheiro, nascido em 21 de Novembro de 1857, há 150 anos, estará entretanto em exposição no Museu do Chiado. Este é um momento exemplar para revisitar o grande artista, irmão do inesquecível caricaturista Rafael Bordalo Pinheiro. Numa poesia aberta à chegada de Columbano de Paris, o humorista Rafael prestou homenagem ao artista, e de tal sorte certeiramente que a si própro fez um retrato de Zé-Povinho, indiciando profeticamente o sucesso do irmão como pintor, homem que efectivamente marcou de forma renovada a pintura naturalista portuguesa.
  • A exposição do Museu do Chiado (Fevereiro 2007) apresenta obras pouco vistas ou talvez nunca reveladas, mas isso mais acentua a importância das prospecções aos patrimónios que recolhemos e Columbano resulta muito do modo como ele soltava ou justapunha manchas cromáticas, numa representação que sabia não estar a copiar o visível, antes o interpretava com rigor e inquietação plástica.Na época em que regressou a Paris, e embora na altura o impressionismo estivesse em voga, Columbano apreciava mais a pintura holandesa do século XVII, a luz dramática, a coesão tonal da matéria pictórica.
  • Columbano foi um autor polémico, na razão da sua técnica inusitada, mas a história não o injustiçou. De resto, em meados do século XIX, ele mostrava um interesse fundado pelos avanços da modernidade, experimentando novas formas, sem perda de coerência e da sua identidade estética. Nesse tempo, Columbano chegou a enviesar as regras, frontalidade e pose, por exemplo, como acontece numa espécie de instantâneo visível em baixo, na figura mais pequena - «A Luva Cinzenta». A senhora é representada um pouco como se estivesse distraída, de lado, acto ocasional que a fotografia haveria de explorar profundamente.
  • Columbano pertencia a uma família numerosa, que o pai regia em bom termo, e mostrou-se muito cedo verdadeiramente dotado para as artes. Devido ao seu empenho e à qualidade da sua produção, o artista terminou um curso de sete anos em quatro. A breve trecho participa nos salões da Sociedade Promotora das Belas Artes.
  • Com a decisão de um mecenas, Columbano obtém uma bolsa de estudo. Paris, o contacto de aprendizagem com Manet e Degas, tudo isso faz com que o pintor evolua. Aliás, também ele tinha talento para conseguir as influências do meio, sobretudo em Lisboa. De novo em Lisboa, em 1883, o artista acabou por agitar o meio intelectual, entre expectativas e rumores antecipados: estava de volta ao Leão de Ouro e aí, intrigando os que nada ainda podiam ver, realizou um provocador retrato colectivo, juntando personalidades importantes, provocando mais (e as habituais) polémicas.
  • A sua obra está espalhada por diversos locais, no país e no estrangeiro, marca a própria Assembleia da República, enquanto o contacto com o século XX lhe trouxe o começo de um declínio nas apreciações, sem deixar de ser reconhecido como um artista de referência. As lutas em torno das Escolas de Belas Artes prejudicaram o clima entre os artistas, e de resto o público das tertúlias já nesse tempo operava pareceres bastante obtusos. Como nos nossos dias, congenitamente, diga-se a verdade.
  • Por mim, penso que Columbano Bordalo Pinheiro é uma das personalidades mais marcantes da nossa pintura. Bem se poderia (ou deveria), para além desta e da próxima exposições, reestudar Columbano, a época e a sua obra, agora certamente com a independência e procurando reconhecer o seu modo especial de anunciar a modernidade. É perfeitamente patético o que o pintor escreve a Francisco Vilaça, em 1885, depois de referir que guardava tudo no seu quarto, revendo mais tarde o trabalho do dia: «Sozinho, em silêncio, faço então a exposição, para mim, dos meus próprios trabalhos e assim passo bons bocados a admirá-los. Hei-de acabar, creio, por ser o único admirador da minha obra». 1
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1. Texto apoiado na notícia da exposição por Sílvia Couto (VISÃO), Academia de Belas Artes e Dicionário da Pintura Portugusa, Ed. E. Cor

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