quarta-feira, fevereiro 28, 2007

UM OLHAR RANGENTE SOBRE O MUNDO

des-colagem










elementos da exposição realizada há anos, em Lisboa,
na extinta Galeria Nacional de Arte Moderna


Vostell será, ao primeiro contacto, um ser da cultura urbana. Mas a sua acção sobre o território abana as estruturas de uma estabilidade afinal falsa. E transporta para o espaço público as coisas encobertas, velhos produtos encantatórios, reconstruindo a televisão inócua, absurda e indisponível. A artificialidade dos cenários pode decorrer de uma aspiração simultaneamente de denúncia, testemunho, sátira -- um julgamento sem regras, dividindo em modalidades indescritíveis a arte moderna, a sua fé, rasgando antigas convenções e belos modelos que indiciavam o sagrado, agora de facto sem ornamentos e cargas majestáticas, na perda insanável de todas as santidades.
No domínio dos eventos artísticos, na destruida (pelo fogo) Galeria Nacional de Arte, margem direita do Tejo e resto da Exposição do Mundo Português, devemos lembrar a apresentação antológica de Wolf Vostell, que se revestiu da maior importância e permitiu aos artistas modernos deste país arriscarem posições interventivas por vezes de mérito muito assinalável.

Vostell é um autor, no pleno sentido da palavra. Quando os artistas europeus começaram a procurar os novos estímulos vindos da América, também Vostell viajou para tais distâncias e, nos lugares próprios, desfocou conceitos, apropriou-se de campos operativos recentes como entendeu. O happening interessou-o de maneira particular, mas, ao aceder às correntes emergentes na altura, deu relevo à performance, então tida por original daquela latitude cultural. Ele deu-lhes sentido de contracorrente, política e socialmente.

Um facto relevante decorre pelo seu uso da chamada «des-colagem» como princípio criativo e sintoma de diferentes orientações interventivas. Vostell foi informalmente definido, neste e noutros campos, pela sua constante aproximação das coisificações temáticas ou alegóricas. «Fascina-me (disse) os sintomas e as várias emanações como a constante metamorfose do espaço em redor, expressão artística na sua destruição em geral, sempre como dissolução e justaposição, razão bem forte para operar. Des-colagem é a produção principal no uso da destruição e autoconstrução, em contra-distinção da colagem, aglutinação heterogênea, objectos que não esquecem a assemblage»

A ideia de confrontação das artes teve o seu período mais aceso durante a guerra do Vietnam. A variedade e contundência polémica de diferentes tipos de experiências de índole artística, atravessou a América de costa a costa, derramando-se aqui e além como gesto das tribos em formação possessiva.

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