quarta-feira, fevereiro 28, 2007





Vostel, exprimindo uma violenta avaliação do mundo em volta, ou mesmo do nosso estado civilizacional, usou a performance e a instalação como quem arremessa à terra formações absurdas de cimento ou como quem recupera, dos lixos e dos lagos pôdres, todos os graffiti de grandes ecrãs de alvenaria, mostrando alegorias herméticas, velhas reconquistas da primeira Idade Industrial e dos seus perversos efeitos colaterais. Para além disso, e de marcas monumentais que imprimiu ou cravou nas encostas de uma via férea, ultrapassou as grandezas da memória pela reconjugação de restos, cemitérios do ferro e das latas vazias, desmontando, com ironia e horror, a sociedade de consumo: um carro cercado por pãos atados uns aos outros, como a muralha da forme ou contra os agentes dela. A instalação das portas dos carros, motorizadas para se abanarem ou estremecerem, é das suas invenções mais orgânicas e mais temíveis: o ruído das portas sugere a substituição insubmissa das orquestrações brutais, metálicas, enquanto a par disso, ou noutras pesquisas pela fotografia, Vostel imprime à imagem certo peso coisal, referência aos desastres principais, esmagamento de pessoas e dos sonhos no indecifrável desabar das humanas construções de ferro, aço, cimento, sangue oculto na permanência dos cadáveres dos escombros, gritos vindos de lá e de súbito conceptuais, teoricamente numeráveis

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