devemos lutar sempre a fim de que figuras como
Eduardo Prado Coelho não sejam remetidas para o esquecimento
Eduardo Prado Coelho faleceu ontem, dia 26 de Agosto de 2007, por paragem cardíaca. Enfrentara ultimamente graves problemas de saúde com grande estoicismo e uma imparável prática da esperança. Acabara de entregar a sua última crónica, no Público, jornal onde escrevia há muitos anos e que lhe presta hoje uma comovente homenagem, sem palavras de circunstância e um perfil intelectual muito consistente. Pedro Mexia começa o seu artigo nomeando Eduardo Prado Coelho como o último crítico. Refere-se a um certo tipo de influência, ao prestígio, ao modo sereno como enfrentava os ódios e a relação complexa entre a vida universitária e a prestação de ensinamentos públicos, mediáticos, perante o desgaste de toda uma disponibilidade de espírito notável. Viera ao jornal também para falar de projectos: um regresso à coluna de crítica literária. Chamar-se-ia Sete Rosas Mais Tarde, inspirado em Celan. As suas crónicas tinham frequentemente um sabor poético, mesmo se a fala envolvia temas de natureza filosófica ou política. Esta morte não constituiu propriamente surpresa, dado os problemas de saúde que enfentara e a dificuldade em os superar, mas o peso da perda não é menor por isso. Vou sentir, com certeza, a falta da sua crónica, uma das primeiras coisas que lia no jornal. Era uma prosa que dava sabor especial à límgua portuguesa, a voz quase corrente e a invenção da presença de palavras inesperadas, um sobressalto, um ritmo cuja identidade não se desfocava nunca.
Eduardo Prado Coelho era filho de um dos nossos maiores ensaístas portugueses. Escrevia desde os tempos da faculdade, escreveu sempre até ontem, e oferece ao país uma obra polémica e lúcida, em cerca de vinte títulos, como O Reino Flutuannte e A Noite do Mundo. A sua versatilidade cultural permitia-lhe dar-nos essa reflexão sobre a literatura e o homem, a par de textos notáveis sobre cinema e alguns sobre a forma das artes plásticas. Na década de 80 escreveu acerca do «pós-modernismo», época em que melhor acertou o equilíbrio entre a densidade da escrita, a sensibilidade e o seu lado mais denso mas simultaneamente aberto à comuniação. Figura ao mesmo tempo amável e com apelo polémico, foi político e escritor, soube separar as águas, a honestidade a par da coragem perante situações mais difíceis. Neste sentido, o socialista Ferro Rodrigues afirma, referindo-se à época de 2002: «foi mais um intelectual na política do que um político na cultura.
2 comentários:
Estou ainda a vê-lo, nos finais dos anos 70, a entrar pela mão de Tereza... Amado, salvo erro, prof de Semiótica e a DIZER com doçura, com alma, versos de Fiama Hasse...
Cai mais uma árvore de LP.
Picada
Concordo com Ferro Rodrigues.
Já era um estudante promissor, esperei sempre que ele continuasse um dia o Dicionário de Literatura...
Que falta nos faz uma Academia de Letras como tem o Brasil. Com esta verdadeira explosão da língua em todas as vertentes, após a descolonização, não compreendo como, na área das Letras, em Portugal não há praticamente investigação!
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