segunda-feira, agosto 06, 2007

UM DOLOROSO ERRO DE CASTING


Margarida Vila Nova, jovem actriz de grande talento, hábil a utilizar o estudo que faz sobre as personagens, tanto na televisão como o teatro e no cinema, aceitou interpretar o papel de uma personagem baseada na ex-companheira de Pinto da Costa, a autora do livro bibliográfico Eu, Carolina. Carolina, de súbito personalidade do jet set do mundo do futebol, passou também e exibir o estatuto de vedeta reveladora das situações e quadro moral desse mundo, do presidente do Futebol Clube do Porto em particular. O livro não tem perfil literário de qualquer nível assinalável, mas, dada a especial cultura que os portugueses se habituram a linguajar, por falta de alimento verdadeiro, alcançou várias edições e tem sido alimento de muita casa alfacinha.
Por estranho que pareça, ou pelas razões da conquista popular, João Botelho, realizador de cinema, resolveu fazer um filme baseado naquele «romance» eticamente duvidoso. Sustentado rapidamente pelo nome de Margarida para interpretar a inenarrável Carolina, papel que aceitou e que estudou, com o profissionalismo de sempre, as vozes do burgo cruzaram-se de entusiasmo e desdém. Nada de importante, valha a verdade. Mas o realizador amenizou, desde logo, as razões de iras várias, dizendo que o filme não ilustrava nem a vida nem as contradições daquele casal, passando um pouco ao largo do livro e escavando algumas peripécias meramente ficcionistas, embora impulsionadas pelo fenómeno editorial já referido. Quando soube da aceitação do trabalho pela Margarida, uma sombra indecisa poassou pelo belo rosto da actriz. Mas compreendi a sua possibilidade de defesa, justamente no domínio do enquadramento estri-tamente profissional, inclusive como desafio aos seus méritos. Mas, por muito que pintem aquele rosto jovem, por muito que o vistam com a roupa da outra, por muito até que o desempenho da actriz seja notável (o que não é difícil imaginar) a sua escolha continuará a ser, do meu ponto de vista, um erro de casting. Há valores, raridades, sonhos até, que não são susceptíveis de apertar numa caixa pequena, envernizada para um contexto pouco credível, apesar dos méritos do realizador.

5 comentários:

naturalissima disse...

Concordo com o que diz aqui. Revolta-me que historietas de fofoquices, de gentinhas sem nível intelectual, moral e ético, são as que mais vendem, as que amis têm audiência...
Muita "coisa" anda por ai envolvida promiscuamente, atirando areia para os olhos uns dos outros, fugindo de outras,...

Um Bom Dia tiomeu
até breve
Danielasobrinha

P. Guerreiro disse...

Vamos a ver o que irá trazer esta jovem promessa, por enquanto isso mesmo, mas com talento verdadeiro, orgânico. A oportunidade do filme não deixa esconder o interesse comercial, mesmo que eu acreditasse que o realizador tinha achado o livro interessante...Não acredito.
Este filme vai-me passar ao lado, a história não é interessante, a Carolina não é interessante, o Pinto da Costa também não...Sobra a atriz, o trabalho que vai desenvolver. Espero que a Margarida tenha sucesso neste trabalho tão difícil (tornar interessante alguém que não o é).
Actualmente toda a gente escreve livros, questão de oportunidade, livros de ocasião única, agora ou nunca. São jogadores de futebol, políticos despeitados, mulheres abandonadas, homens e mulheres com histórias para contar, hoje lêmos-te, amanhã não...As editoras agarram tudo, é isso que dá dinheiro e faz a máquina rolar.


Voltei de férias, espero que os endereços que lhe enviei tenham funcionado.
Um abraço e até sempre (obrigado pela visita)

fernanda f disse...

Confesso que o que me interessa num filme tem a ver com a técnica de representação dos actores, a capacidade de realização do realizador, a fotografia e técnica de filmagem, o som, a montagem.
Éclaro que o tema também interessa, mas são estes requisitos que valorizam a história, mesmo que ela seja sórdida, desinteressante.
Vejo pouco as notícias, sei mais o que se passa pela internet e nem sempre sigo as sequências.
Não sei se irei ver o filme, mas parece-me um grande desafio para o realizador , actores e restantes intervenientes.
Se daí sair uma obre prima...está ganha a aposta.

Betty Coltrane disse...

Honestamente, por muitos desafios que a história apresente, é um tema que a meu ver não merece de forma nenhuma ser eternizado em filme. Não tenho interesse nenhum pela carolina, pelo livro da carolina e muito menos pelo filme da carolina. sempre escolhi ficar alheia a essas historietas... Enfim.

Gostei do seu comentário acerca da história do carteirista. Reconheço que por vezes sou um pouco ingénua, mas não me parece que isso seja um sinal muito mau. Vivo num meio pequeno e bastante protegido, e há coisas que de facto me chocam, porque além de serem um atentado à moral, são muito estranhas na minha maneira de pensar.

Abraço

vera

jawaa disse...

Pois tem razão no que se refere à vacuidade da história e da pessoa em causa e tudo o mais que alimenta a faceta menos sã que os media ajudam a cultivar nas gentes deste país.
Quanto à Margarida H M, é o seu mister, talvez venha deste papel tão «errado» a sua revelação como uma verdadeira actriz. Será um desafio...
Boas férias no «regresso ao lar»!