terça-feira, fevereiro 13, 2007

ARTE CONTEMPORÂNEA PORTUGUESA

ROGÉRIO RIBEIRO


Rogério Ribeiro nasceu em 1930, em Estremoz, e frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio. A sua formação inicial desenvolveu-se na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, agora Faculdade, onde o artista, como docente de design, prestou relevantes serviços científicos, didácicos e pedagógicas, aliás na sequência da reforma implemnentada por docentes e alunos, além de muita documentação recolhida e coordenada por um dos grupos de trabalho. Isso aconteceu, naturalmente, depois do 25 de Abril de 74 e permitiu convencer os renitentes governantes de que a arte, além de sedimentar e caracterizar uma civilização, é indispensável, a nível superior, para a identidade dos países em que se consolida.
Rogério Ribeiro esteve ligado ao movimento neo-realista português e foi dos artistas que mais diversificou os códigos de uma linguagem plástica integradora daquele movimento. Passou por um período muito dinânico, em que as figuras, nítidas ou desfocadas, apareciam recolhendo as hastes das searas, como numa pintura abstracta, searas vermelhas ou massas humanas metaforicamente sulcando o território. Tudo isso passou depois para uma reflexão intimista, casas alentejanas vazias, abertas para o amanhacer, gente balouçando nos atrelados dos tractores, a caminho do trabalho, o verde e o amarelo, o vermelho também, como na iniciação de um almoço de broa e carne de porco.
Rogério Ribeiro abriu-se então para caminhos de mais amplas consequências, entre um laicismo quotidiano e temas sagrados, por vezes editados por intermédio de duras amarrações com cordas, máquinas de madeira, rodas imensas. Estes temas, se apontavam por vezes para a Bíblia, inclinavam-se mais para outro tipo de nitologias, como a esplendorosa série de Ícaro. Ícaro candidato a Sísifo, construindo as suas asas absurdas, de madeira, partindo, em cortejo, para o limite da falésia e caindo a pique no abismo sem nome. Outras ideias, trabalho em casa, música, aprendizagens várias, orações de desejo, tudo isso foi surgindo nesta obra verdadeiramente significativa da nossa invenção poética, incluindo peças austeras, perfeitas, simbólicas, desde estranhas cosmografias aos aparelhos de cimento e de função misteriosa. O que há de narrativo em Rogério Ribeiro, há também entre metamorfoses de flores, céus, duvidosos medievalismos, a homenagem ao trabalho dos artistas, o trompe l'oeil, a realidade dentro e fora da pintura, os potes, os pincéis, como numa dedicada encenação para um filme ligado à Renascença.

3 comentários:

naturalissima disse...

Muitas vezes é importante tomar conhecimento da trajectória de vida de um artista para melhor compreendermos a sua obra.

Deste artista já oiço falar desde que vim para Portugal, e foi o tio que melhor me fez conhecê-lo.


Continuação de uma boa semana, tiomeu
Daniela

Titá disse...

De facto, é um prazer visitá-lo. E o que se aprende por aqui não tem forma de agradecimento.
Cumprimentos

Maria disse...

Pois é, não passava por aqiu há algum tempo.
Costumo vir para ler, e aprender.
Hoje comento para expressar a minha admiração pelo talento de Rogério Ribeiro, pintor Grande.

Um abraço