Procura-se amaciar as agressões contra o ambiente e os ecologistas aumentam de dia para dia diversos sectores da sua actividade. Muitos jovens tornam-s altruístas e estudam os problemas da terra, das assimetrias, da pobreza rural. Cuidam das espécies e avaliam a situação actual do planeta. Mas carecem de especialistas do som, embora registem e comparem o ruído urbano e preconizem medidas de salvaguarda da qualidade de vida nesse aspecto.
Pois os jovens portugueses enfrentam cada vez mais problemas auditivos, traumas por vezes irreversíveis, fruto de uma vida cegamente entregue à frequência das discotecas, sítios onde saltitam noite ineiras, mesmo que seja com a ajuda de drogas estimulantes. Bebem do princípio ao fim, dia após dia, sob um regime de som que chega a manter-se ns 120 dB, bem acima portanto dos aceitavelmente toleráveis 85 decibéis (dB). À frequência de divertimentos nocturnos, acrescentam-se espectáculos de massas em estádios e recintos, onde as medidas de som chegam a ultrapassar os níveis já referidos, durante três a quatro horas, o que tem provocado fortes aumentos de traumatismos por via sonora, ou seja, lesões do ouvido interno derivadas da exposição prolongada a níveis elevados de som. Muitas dessas lesões, segundo o odorrinolaringologista António Nobre Leitão, podem atingir graus de difícil ou nula recuperação.
Embora não existam estudos oficiais sobre a percentagem da população que sofre de problemas auditivos ou perda de audição em Portugal, estima-se que cerca de dez por cento (um milhão de pessoas) se encontrem afectados.
As pessoas que trabalham no mundo da música e os que frequentam regularmente, além de outros meios similares muito desgastantes, representam «um dos grupos com risco mais elevado quando se fala de perda de audição induzida pelo ruído, uma vez que a intensidade sonora em locais como as discotecas pode atingir (ou mesmo exceder) os 120 dB, ultrapassando os limites considerados de risco para a audição», afirmou Catarina Kom. Só para se ter uma ideia do barulho ao qual as pessoas se encontram expostas na discotecas basta dizer que a sonoridade de um martelo pneumático ou de uma serra eléctrica atingem os 110 dB. A descarga de um trovão, conforme os casos, anda perto dos 120 dB. E um avisão a descolar, a cerca de 40 metros, debita cerca de 130 dB. A estes exemplos correntes, devemos acrescentar a soma de situações altamenre ruidosas nos espaços urbanos, entre o tráfego automóvel, máquinas em obras, os escape de motas potentes, em aceleração, e ainda, por estranho que pareça, o som estapafúrdio nas nossas mini-salas de cinema, construções que deviam ser proibidas em muitas das suas características. Imaginem uma cena íntima, com dois personagens num diálogo murmurado, tramitida para o espaço de duas assoalhadas a cerca de 80 dB. Não são apenas os ouvidos que se ressentem: os filmes são violentamente deturpadas na interacção dos valores estéticos, do próprio sentido das obras, e só fico espantado como é que os realizadores ainda não protestaram formalmente.
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N: parte deste apontamento cita ou transcreve uma nota publicada no JR Lisboa, 5 de Junho
4 comentários:
Gostei deste seu escrito, de facto, estamos a criar uma geração de surdos !! O som das discotecas é altíssimo e diariamente somos "agredidos" sonoramente na rua. Curiosamente das salas de cinema tive há dias uma conversa nostálgica com a minha filha de 14 anos sobre as salas de cinema que existiam quando tinha a idade dela, do seu tamanho, de como nos sentiamos bem nelas. Foi uma viagem de recordações. deixo-lhe um abraço
Gostei do teu texto, mas vendo as coisas por outro lado às vezes mais vale andarmos surdos...
beijinhos
Artigos destes deveriam ser lidos (obrigatoriamente) pelos jovens... Deveriam ser divulgados nas escolas, faculdades e nos lugares mais frequentados por uma geração que ignora o consumo destes males.
Mas há que fazer algo e mudar os sistemas tecnológicos que DOMINAM e SUJAM o mundo... não só a nível do RUÍDO mas também em relação à POLUIÇÃO QUIMICA no planeta...
eu nao achei muito legal nao meio besta
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