as vozes na noite
Diz-se do eixo: linha recta real ou imaginária em torno da qual um corpo efectua ou pode efectuar um movimento de rotação. Peça cilíndrica em torno da qual certos corpos têm movimentos giratórios. Mas há dicionários que falam em jogos de badeixo, coisa de crianças, ou nos orgãos dos vegetais. E depois ainda há as coordenadas e as ordenadas, a simetria, o eixo da Terra, o eixo óptico - além das sabidas falas populares como andar fora do eixos, meter as coisas nos eixos, eles que não se cuidem dos eixos e vão ver como elas estalam.
Personalidades simpáticas e cultas, de língua afiada e eixos invulgares, batem papo, uma vez por semana, no programa O EIXO DO MAL. Já falaram muitas vezes do Bush, porque este insólito presidente dos Estados Unidos tem um sétimo sentido que o faz descobrir eixos do mal a torto e a direito. Está bem de ver que o problema dele é encontrar-se fora do eixos. Os senhores do programa, que gozam gostosamente o modo de ser português, o que seria interessante se eles se ouvissem rodando em torno de cada eixo pessoal. Todos eles, luminosos, lusitanos, um pouco enfatuados e em parte letrados, usam tesourinhas entre os dentes para cortar aqui e ali, ora no Sócrates, ora no Cavaco, ora no Soares, ora no poeta, e ainda no Médio Oriente, nas pessoas que se deixaram fotografar desgovernando qualquer província, curiosidades, facilidades, a Educação, a Ministra, os professores.
Estes protagonistas de O MAL DO EIXO são conhecidos dos meios da cultura e é provável que as suas vozes sobrepostas estejam a falar de cultura, talvez para alienígenas e não para portugueses, pois as falas embrulham-se e deixam de fazer sentido. Não vou declarar que lhes devo respeito e à televisão já bajulada por muita gente.
Mas há também uma senhora. E vou dizer o nome da senhora, Clara Ferreira Alves, porque esvreve belíssimas crónicas na ÚNICA, brinca mas sabe com o que brinca e como, é uma bela mundana no sentido de quem conhece o mundo e não precisa de pintar o cabelo para cortar a direito. Eu gostava que ela fizesse três crónicas sequenciais sobre o Eixo do Mal, incluindo um passeio clandestino pela Coreia so Morte.
Falta aqui um pouco da tal pedagogia que desbaratámos há anos para queimar o ensino. Talvez assim, seguindo a chorona e melancólica música do genérico, se conseguisse menos certezas de mercado e melhor faladura sobre aquelas coisas subtis que a Clara faz deslizar aobre a mesa.
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