Os dez grandes estádios que se edificaram em Portugal, a fim
de servirem o EUROPEU correspondem, segundo técnicos
habalizados, a montantes financeiros e grandeza logística
para a edificação de cinco pequenas cidades no
interior do país, incluindo estruturas básicas
num quadro tecnológico de porte
médio. A aposta não passa, quanto a mim, de uma tentativa
escassa de relacionar a grandeza absurda dos edifícios liga-
dos ao futebol com o desperdício improdutivo da sua totalida-
de e financiamentos acessórios.
De cada vez que me defronto com o futebol (mil vezes pela televisão) sinto repulsa por essa ensurdecedora prioridade da comunicação social relativamente a tal desporto, assim capaz de tornar fundamentalista uma boa fatia da população. Lembro-me de ver jogos em Inglaterra em que todos os jogadores se situavam a certas distâncias uns dos outros, trocando a bola, e partindo depois, num golpe surpreendente, em profundidade, para a esquerda ou para a direita -- passo raro e preciso que permitia uma rápida triangulação sobre a baliza. Esse futebol quase perdido em função das «audiências», das trocas de ano para ano, das compras de jogadores por milhões de euros acintosamente desproporcionados, era, para mim, o verdadeiro futebol, e reconheço que a televisão inglesa nos ensinou muito ao transmitir os encontros com uma subtileza enorme, em directo, usando muito bem o plano próximo em belíssima coordenação com os planos médios e gerais. Através da televisão inglesa, nos tempos do preto e branco, tornou-se claro que o futebol (aquele, pelo menos) era fotogénico e tinha um grande aliado nas emissões televisivas. Mas a fotogenia tinha também um sentido literal, decorria muito de modo como os atletas jogavam, sugerindo por vezes a câmara lenta colada na passagem aos disparos rápidos, na corrida e com a bola.
Abarrotando de emissões de futebol, sobre o futebol, numa sufocação intolerável, horas e horas, aqui e além, nos noticiários sem falta, a Televisão Portuguesa, toda ela, comete um grande atentado contra a sanidade mental dos cidadãos e cria neles, a par de analfabetismos de pesos vários, um fundamentalismo inteiramente injustificável. As estatísticas deste tempo pós-moderno mostram a loucura ilusória de cada plantel nos tempos de antena dedicados ao futebol e deixa-nos estupefactos, infectando a razão e tornando redutor o espaço dos nossos desejos. Em boa verdade -- incluindo todas as estruturas administrativas -- o futebol português deveria ser revolucionariamente reformado, encurtado, menos mercantilista, menos perdulário nos gastos e obeso nos privilégios; menos premiável (também) aos negócios pouco limpos, ao tráfico de influências, à desnacionalização ilusória de cada plantel. Com o tempo, o tão elogiado futebol português (pelos fundamentalistas) tem-se comercializado e degradado tanto na técnica como no sentimento. A brutalidade abunda, das mais diversas maneiras. As lesões sucedem-se, pagas a peso de ouro. Tudo deveria ser reformulado: as regras do jogo em geral e a mudança de procedimentos, aberturas e reservas, disciplina, arbitragem, tempo, processos de registo vídeo nas grandes áreas.
Aos presidentes, administradores, capitães de equipa e árbitros seria sempre atribuído um dignificador apito dourado
terça-feira, janeiro 30, 2007
FUTEBOL POS-MODERNO
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
É verdade!
Não consigo compreender como é possível que a RTP1, que pagamos com os nossos impostos, consecutivamente deixe de prestar o seu SERVIÇO PÚBLICO DE INFORMAÇÃO à hora devida, para apresentar JOGOS DE FUTEBOL!
Olha, sou brasileiro, o futebol é mágica, algo distante de um mundo calculado e inpregnado de objetivos, eu axp q vc é "moderno" demais, relaxe e deixe a bola rolar....
necessario verificar:)
Enviar um comentário